Participação do Judaísmo no Anti - Semitismo
- Narcisismo, Doença Infantil do Judaísmo -

"Sabedoria é a coisa principal. Adquire sabedoria;
e com tudo o que adquirires, adquire compreensão.

Prov. IV: 7.

OBJETIVO DO TRABALHO

O objetivo deste trabalho é examinar, na tentativa de melhor entender, a participação do judeu, como povo, no desencadeamento e manutenção, através dos séculos de uma atitude de intransigente hostilidade do gentio (goi) em relação ao judeu. Esta atitude é denominada erroneamente de anti-semitismo. Erroneamente porque semita é a denominação dada a povos de raça caucásica que formam um grupo lingüístico de origem comum. Dele faziam ou fazem parte os arameus, árabes, babilônios, assírios, judeus, fenícios e outros povos do sudoeste da Ásia. Todos semitas, portanto. Melhor então seria dizer anti-judaismo ou anti-judeu, mas como a expressão "anti-semitismo" já esta consagrada pelo uso eu também a utilizarei neste trabalho.

Na grande maioria dos trabalhos que abordam o fenômeno do anti-semitismo, ele é tratado do ponto de vista em que o judeu é a vítima e o anti-semita é o algoz. Como isto é gritante e indiscutível, o aspecto da participação do judeu fica à margem, restrito ao de vítima, exclusivamente.

No ano de 1963 no "Simpósium Anual" realizado pela "Sociedade Psicoanalítica Argentina" em Buenos Aires, o tema foi: "Psicoanalisis del Anti-judaismo".

. Nota-se, examinando esses trabalhos, que somente 11,5 por cento dos autores vêm alguma responsabilidade do judeu na participação do anti-semitismo.

Ao adotar o monoteísmo, (aqui pouco importa se foi originado de um "pacto com Javé" ou no monoteísmo egípcio do faraó Amenotep IV (Aknaton), trazido por Moisés, do Egito), o judeu passou a se apresentar como o "povo escolhido, eleito pelo seu deus". Como corolário dessa idéia narcísica, grandiosa, passou a dispensar um tratamento hostil e depreciativo com relação aos outros povos. Estes eram denominados os gentios: "goyim" que tinha, e tem, uma conotação pejorativa. Esta atitude não é exclusividade do povo judeu em relação aos outros povos próximos.

Os potiguares, por exemplo, indígenas do nordeste brasileiro, tinham uma atitude semelhante quando nomeavam os não potiguares. Chamavam-nos "os outros": tapuias na expressão desdenhosa deles. O significado de gentio é o mesmo. Os tapuias hoje, são tidos como uma tribo.

A mim, me parece ser um aspecto da verdade e não toda a verdade o papel puramente de vítima, desempenhado pelo judeu no anti-semitismo.

O judeu fez ou faz alguma coisa para que esta situação tenha se criado e ainda perdure? Esta é uma pergunta que tentarei ver respondida no decorrer deste trabalho.

Não se trata de negar ou justificar o anti-semitismo, indiscutível e comprovadamente um dos mais repulsivos aspectos da agressividade entre grupos humanos. Isto se aplica a qualquer tipo de racismo, seja ele contra o cigano, contra o negro ou contra quem quer que seja.

Pretendo somente tentar deixar mais evidente a participação do judeu no processo.

Este tema é por demais polêmico no mundo ocidental, já que nossas raízes culturais e religiosas se assentam em grande parte no judaísmo. Este fato os anti-semitas detestam admitir.

Com a criação do Estado de Israel o conflito entre os judeus e seus irmãos árabes recrudesceu, extremando posições.

É sabido que todo o trabalho que tente abordar o tema está fadado a ser apontado como pró ou anti-judeu pelos radicais de ambos os grupos. Sei disto e, ciente de que esta reação é inevitável, nem por isso deixarei de abordar o tema. Pois o que me move é o desejo de esclarecer e não o de polemizar.

MITOLOGIA JUDÁICO-CRISTÃ

Numa rápida revisão desde os primórdios da Mitologia Judáico-Cristã encontramos em um corte longitudinal, desde Adão, uma constante: a luta entre os irmãos que, movidos pela cobiça, inveja e pelo ciúme, competem entre si no afã de serem os prediletos, os queridos do pai e portanto seus únicos herdeiros. Situações comuns, até hoje, nas famílias, de uma forma geral. Via de regra este lugar pertencia ao primogênito do sexo masculino, a menos que ele morresse ou fosse assassinado.

Caim por ciúme, ao ver seu lugar de primogênito e preferido ameaçado, mata seu irmão Abel ( Gn 5, 32), "pois a oferenda deste, e não a sua, fora aceita por Javé". Javé estava elegendo Abel, o preferido.

Dentre os filhos de Noé, Cam e Jafé recebem pouca ou nenhuma atenção de Javé, enquanto que Sem, o mais velho, tido como o tronco dos povos semitas, é o preferido. Na nona geração dos descendentes de Sem, surge Abrão—Abrahão, como passou a se denominar após a chamada "aliança ou pacto com Javé" ( Gn 12, 6 e 7 ).

Que é assim concluído:

(Gn 15, 12- 21):

"À tua descendência darei este pais, desde a torrente do Egito até o grande rio, o rio Eufrates: os cineus, os ceneseus, os cedmoneus, os heteus, os fereseus, os refaim os amorreus, os cananeus, os gergeseus e os gebuseus."

Estes nomes indicam os diferentes povos que habitavam os limites mencionados. Isto "era prometido por Javé", aos descendentes de Abrahão em troca da submissão total a ele, que seria seu único deus. E o selo desta aliança consistia na "circuncisão de todo o macho de sua casa e de seus descendentes". ( Gn 17, 9 -15).

Javé ratifica essa "doação" em Ex 13, 5 .

Note-se que este território, "doado" por Javé a Abrão já tinha donos, sendo habitado pelos povos citados acima.

Os deuses cananeus Moloch e Baal exigiam o sacrifício humano. Este sacrifício era feito comumente com crianças. Elas eram sangradas e depois queimadas no altar do sacrifício. As "primícias" eram dedicadas ao deus cruel Moloch, divindade semita mencionada na Torá ( Lv 18, 21; 20, 2- 5; 1 Rs 11,7; 2 Rs 23, 10). Trata-se da divindade cananea Milk cultuada desde o século XXIV a.C. em Ur (de onde proveio Abrão), Mari, Assiria, Ugarit, Canaã e era o deus nacional dos Amonitas. Exigia dos fieis o sacrifício das "primícias" que tanto eram os primeiros frutos, as primeiras frutas colhidas, as primeiras crias do gado, em geral, incluindo o primeiro filho de seus adoradores. A lenda do "quase sacrifício" feito por Abrão exigido por Javé, nos permite entende-la como a transição da adoração de Moloch para a adoração de um outro deus único, menos violento. Já não exigia a vida, somente o prepúcio. Mas esse novo deus, era ainda violento e exterminador com relação aos estrangeiros, gentios e aos próprios judeus, quando o desobedeciam. Era a representação externa do chefe do clã. Onipotente como todo o chefe de clã.

Abrahão por se sentir um filho eleito pelo deus Javé passou a acreditar na promessa ( desejos seus projetados no deus que agora os devolvia em forma de promessa) e nos seus direitos, já que o aceitou como único e se submeteu às suas imposições, para então "ter direito àquelas terras". O pacto com Javé, foi uma transação em que em troca da fidelidade eterna e exclusiva ao deus-único, Abrão recebia a promessa de ser aceito, bem como seus herdeiros, como o "filho eleito e único". Como Abrão procedeu com os outros filhos , Javé fez com os outros povos, filhos de deus. Baniu-os.

A esta altura cabe um parênteses: o deus dos judeus, JAVÉ (YHWH, o tetragrama), tinha outras denominações: EL, EL-SHADAI ("O Todo PODEROSO", como o designava Abrão), O ETERNO, ELOHIM ( ou ELOÁ), JAHU, JO ou JAH e ADONAI. "Adonay" é usado quase que com exclusividade pelos Sefaradis, em sua Bíblia de Ferrara escrita no dialeto ladino. Os cristãos, em suas diversas seitas e ramificações, designam esse deus, SENHOR DEUS, O SENHOR, O DEUS DE ISRAEL, O CRIADOR, JEOVA, O ALTÍSSIMO, PAI CELESTIAL, ou simplesmente DEUS.

Os livros chamados sagrados que anteriormente eram transmitidos de geração em geração por tradição oral começaram a ser grafados pelos sacerdotes israelitas, na época dos Reis, aproximadamente entre 1200 e 500 a.C. Variadas fontes existem, segundo o escriba fosse das linhas Javista (J), Eloista (E), Sacerdotal (P: "Priesterschrift") ou Deuteronomista (D). As versões, cronologicamente , seguem a seguinte ordem: J-E-D-P. Daí algumas discrepâncias em seus textos. Um exemplo disto se vê quando é descrita a venda de José por seus irmãos: nos versículos 27 e 28 de Gênesis 37. Os irmãos vendem o invejado e odiado irmão, por vinte pratas, ora aos ismaelitas ora aos midianitas.

Dos filhos de Abrahão, Isaac, filho dele com sua irmã Sarai ( ou Sara) por parte do seu pai Taré, (Gn 20, 12) é o predileto e, portanto o herdeiro de todos os bens e bênçãos.

Sara que era estéril, teve Isaac por interferência de Javé . O filho mais velho era Ismael que Abrão tivera com Agar a egípcia, escrava de Sara. ( Gn 16,11-21 e 25, 5 ). Sara que temia Ismael como concorrente de seu filho à primogenitura (herança) , fez com que Abrão o expulsasse e a sua mãe Agar, de sua casa "para que se perdessem no deserto de Bersheva" (Gn 21,10 e 14) .

Quanto a Zimrán (Zapram), Ioksan (Jecsam), Medan (Madam), Midian (Madiam), Isbak (Jesboc) e Suah (Sué), filhos de Abrahão com sua outra mulher, Keturá (Ceturá), "enviou-os Abrahão para o Oriente, à terra de Kedem, longe de seu filho Isaac" (Gn 25,1-7). Estes filhos de Abrahão, começando por Ismael que deu origem aos atuais Ismaelitas, vieram a engrossar as hostes dos deserdados pelo pai Abrahão (e pelo pai-Javé) e escorraçados para o deserto. Passaram a ser gentios, "gois".

O clã de pastores nômades saindo de Ur, na Caldeia, se deslocou para o noroeste até Padam-Haram. Chefiados por Abrão, faziam parte da comitiva, Taré, seu pai, Lot, seu sobrinho, filho de Haran, um de seus irmãos. Viajavam acompanhados de suas mulheres, escravas, servos e rebanhos. Buscavam pastagens para seu gado. De lá se dirigiram ao sul rumo ao vale do Jordão onde habitavam todos aqueles povos citados no "pacto de Abrahão com Javé" (Gn 15,12-21).

Perambularam pela Palestina, Filisteia ou Filistina e Canaã terra dos filisteus, cananeus, cineus, ceneseus, cedmoneus, heteus, fereseus, refaim, amorreus, gergeseus e gebuseus. Estes últimos eram os habitantes de Jerusalem que significa: "Jebus el Salem", ou seja: Salem dos Jebuseus.

O "pacto com Javé" pode ser entendido como uma promessa feita por Abrahão a si próprio e aos seus liderados: "essa terra ainda será nossa". Pois se tratava de praticamente um oásis cercado pelos desertos inóspitos do médio oriente. Durante este périplo, que incluiu o Egito, Abrahão e os seus procuravam pastagens para seu gado. Foram levados pela fome.

Ocorrem na época situações marcantes nas andanças desse clã , como o fato de Abrahão ceder sua mulher Sara ao Faraó (Parô) com a intenção de tirar proveito. Esta atitude foi repetida em relação a Abimelech, rei cananeu de Gerar.

(Gn 12-Lech Lechá-10, 2O e 13,1- 2)

"1O) E houve fome na terra, e desceu Abrão ao Egito para morar ali; porque era grande a fome na terra. 11) E foi quando se aproximou para entrar no Egito, disse a Sarai sua mulher: Eis que agora sei que és uma mulher formosa à vista. 12) E será que, quando te virem, os egípcios dirão: sua mulher é esta , e matarão a mim, e a ti deixar-te-ão viver. 13) Dize então que es minha irmã, para que seja bom para mim, por ti , e viverá minha alma por tua causa. ( O 2° É CHAMADO) 14) E foi ao vir Abrão ao Egito, e viram os egípcios que a mulher que era muito formosa. 15) E viram-na os ministros do Faraó (Parô) e gabaram-na ao Faraó. 16) E a Abrão fizeram bem por causa dela; e teve ele rebanhos e vacas e asnos e servos e servas e jumentas e camelos. 17) E infligiu o Eterno ao Faraó e à sua casa, grandes pragas por causa de Sarai mulher de Abrão. 18) E chamou o Faraó a Abrão e disse: "Que é isto que fizeste a mim? 19) Por que disseste: minha irmã é ela? E tomei-a para mim por mulher! E agora, aqui está tua mulher, toma-a e vai-te". 2O) E recomendou-o o Faraó a seus homens, e o acompanharam, e a sua mulher e a tudo que era dele. Xlll-1) E subiu Abrão do Egito, ele com sua mulher, e o que possuía, e Lot com ele, para o sul. 2) E Abrão estava muito carregado em gado, em prata e em ouro "

E ainda em Gn 20 (Vaiera) 1-18.

Episódio semelhante se repetiu com Abrão, Sarai e agora o Rei de Gerar, Abimelech, saindo Abrão mais rico ainda. O Rei, mesmo após dar mil moedas de prata, ovelhas e vacas, servos e servas ao casal, como indenização, foi culpado e castigado por Javé com a esterilidade.

Abrão prepara uma cilada tanto ao Faraó como a Abimelech, que são enganados por ele e extorquidos. Isto ocorre com a conivência, cumplicidade de Javé que ainda castiga as vítimas do logro com pragas e esterilidade.

Isaac, por sua vez, teve dois filhos gêmeos com Rebeca, filha de Betuel, filho de Nacor, irmão de Abrahão.

O predileto de Isaac era Esaú, o "peludo", que nasceu primeiro, também chamado Edom por ter os cabelos ruivos. O segundo, que nasceu segurando o calcanhar do irmão, recebeu o nome de Jacó. Ocorre que Jacó era o predileto da mãe, e com o auxílio dela ludibria Esaú e o velho Isaac tornando-se assim o único herdeiro ( Gn 25,28) . Esaú teve ainda aumentada a má vontade da mãe, Rebeca, por ter se casado com duas heteas: Judith e Basmath. "E estas foram para Isaac e Rebeca, uma amargura de espírito" (Gn 26, 34 e 35). Como os filhos de Abrahão, Esaú, filho rechaçado pelos pais vai dar origem aos edomitas que passaram a ocupar uma região a sudeste do Mar Morto . Mais ao norte se situam as terras ocupadas pelos filhos do incesto de Lot (sobrinho de Abrahão) com suas duas filhas, após fugirem de Sodoma e Gomorra: Os Moabitas ( filhos de Moab) e os Amonitas ( filhos de Ben- Ammi). (Gn 19, 30-38).

Nesta grande família os casamentos endogâmicos eram comuns. E mal aceitos os realizados com gentios, (goyim) estrangeiros.

Jacó, a conselho dos pais vai buscar esposa na família de Labão, o arameu, neto de Nacor, irmão de Abrahão. Trabalha quatorze longos anos por sua preferida Raquel. Leva como esposas as irmãs Lia e Raquel e suas respectivas escravas Zelfa e Bala. É enganado pelo sogro, a certa altura, logra-o mais de uma vez, rouba-lhe o que pode e sai fugido, Gn 29, 31; Gn 30, 37ss- 31, 22ss.

Os ciúmes e a competição pela predileção de Jacó são uma constante em seu clã.

Treze foram os filhos de Jacó:

Sete com Lia: 1° Ruben, 2° Simeão , 3° Levi, 4° Judá, 9° Issacar, 10° Zabulon e 11° Diná.

Dois com Zelfa (escrava de Lia), 7° Gad e 8° Aser.

Dois com Raquel, 12° José e 13° Benjamim.

Dois com Bala (escrava de Raquel), 5° Dan, 6° Neftali.(Gn 29,32 - 35 e 30,1-24).

Jacó, no entanto tem em Raquel sua mais amada esposa e no primeiro de seus filhos com ela, José, seu mais querido por ser, dizia, "o filho de minha velhice". (Gn 37,3).

Afinal, não foi por Raquel que ele trabalhou para seu sogro Labão, quatorze longos anos ? Não foi ela que, ao fugirem de Labão com bens furtados, sentou-se sobre estes, dizendo-se "com o costume das mulheres" (Gn 31, 35) isto é, menstruada e portanto intocável ! Era tabu tocar em uma mulher menstruada. Assim fugiram dos perseguidores, homens de Labão, com o produto do roubo. (Gn 31,19-54).

Raquel também era considerada estéril, só engravidando após Jacó ter tido onze filhos com as outras três mulheres. Tornou-se fértil tomando chá de raiz de mandrágora. Os poderes mágicos conferidos a essa solanácea eram creditados ao formato de sua raiz tuberosa que lembra uma forma humana.

A lenda judaica de José e seus irmãos mostra muito bem aonde os ciúmes e a inveja carregada de ódio, podem levar:

(Gn 37,1-36 ) :

1) E habitou Jacó na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã. 2) Estas são as gerações de Jacó: José, da idade de dezessete anos, apascentava, com seus irmãos, as ovelhas—e ele era mocinho—com os filhos de Bala, e com os filhos de Zelfa, mulheres de seu pai. 3) E Israel ( nome adotado por Jacó após haver lutado com o anjo) amava José mais que a todos os seus filhos, porque filho da velhice era para ele; e fez-lhe túnica talar com mangas compridas. 4).. E viram seus irmãos que seu pai amava mais a ele que a todos seus irmãos, e odiaram-no, e não podiam falar-lhe em paz. 5) E teve José um sonho, e anunciou-o a seus irmãos; e passaram a odia-lo mais. 6) E disse a eles: escutai, rogo, o sonho que tive: 7) E eis que nós estávamos atando feixes no meio do campo, e eis que se levantava meu feixe e ficava em pé, e eis que o rodeavam vossos feixes, e prostravam-se diante de meu feixe. 8) E disseram-lhe seus irmãos: Será que reinarás sobre nós ? E passaram a odia-lo ainda mais, por seus sonhos e por suas palavras. 9) E sonhou ainda outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que sonhei outro sonho, e eis que o sol e a lua e onze estrelas se prostravam diante de mim. 10) E contou a seu pai e seus irmãos. E repreendeu-lhe seu pai, e disse-lhe: Que sonho é este que tiveste ? Viremos, pois, eu e tua mãe, e teus irmãos, a prostrar-nos na terra, perante ti? 11) E invejaram-no seus irmãos, e seu pai esperou o fato. ( 2° É CHAMADO). 12) E foram seus irmãos apascentar as ovelhas de seu pai em Shechem. 13) E disse Israel a José: por certo teus irmãos estão apascentando em Shechem, anda e te enviarei a eles. E disse: Eis-me. 14). E disse-lhe: Vai, rogo, vê a paz de teus irmãos e a paz do rebanho, e responde-me alguma coisa. E o enviou do vale de Hebron, e chegou a Shechem. 15) E encontrou-o um homem e eis que estava perdido no campo, e perguntou-lhe o homem dizendo: Que buscas? 16) E disse: A meus irmãos eu busco; dize, rogo, a mim, onde eles apascentam? 17) E disse o homem: Partiram daqui; porque escutei-os dizerem: vamos a Dotán. E foi José atrás de seus irmãos, e encontrou-os em Dotán. 18) E viram-no de longe, e antes que se chegasse a eles, tramaram mata-lo. 19) E disse cada um a seu irmão: Eis que aquele dono dos sonhos vem. 20) E agora vinde, o mataremos e o jogaremos num dos poços, e diremos: Um animal mau o comeu. E veremos o que serão seus sonhos. 21) E escutou Rubem, e livrou-o das mãos deles e disse: Não o feriremos de morte. 22) E disse-lhes Rubem: Não derrameis sangue! Jogai-o neste poço que está no deserto, e não ponhais mão nele; ( Isto disse) para livra-lo de suas mãos e devolve-lo a seu pai. ( 3° É CHAMADO) .23) E foi quando veio José a seus irmãos, e tiraram a José a sua túnica, a túnica talar que tinha sobre si. 24) E tomaram-no e jogaram-no ao poço, e o poço estava vazio: não havia água nele. 25) E sentaram-se a comer pão. E levantaram os olhos e viram, e eis que uma caravana de ismaelitas vinha de Guilad, e seus camelos levavam cera, bálsamo e goma odorífera, que iam baixar ao Egito. 26. E disse Judá a seus irmãos: Que proveito teremos matando a nosso irmão e ocultando seu sangue ( morte ) ? 27). Vamos e o venderemos aos ismaelitas, e não poremos nossas mãos nele; pois ele é nosso irmão, nossa carne ele é. E escutaram seus irmãos. 28) E passaram homens midianitas, mercadores; e ( os irmãos ) puxaram e fizeram subir a José do poço; e venderam José aos ismaelitas por vinte pratas. E levaram José ao Egito. 29) E voltou Rubem ao poço e eis que José não estava no poço, e rasgou suas roupas. 30) E voltou a seus irmãos e disse: O menino não está; e eu, onde vou? 31) E tomaram a túnica de José e degolaram um cabrito e molharam a túnica no sangue; 32) E enviaram a túnica talar, e trouxeram-na a seu pai, e disseram: isto encontramos; reconhece, por favor, se a túnica é de teu filho ou não. 33) E a reconheceu e disse: A túnica é de meu filho; algum mau animal o comeu. Devorado foi José ! 34) E rasgou Jacób suas roupas, e pôs um saco na cintura, e enlutou-se por seu filho muitos dias. 35) E levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas (noras) para consola-lo; e recusou-se a ser consolado e disse: Descerei enlutado por meu filho, à sepultura ? E o chorou seu pai. 36) E os midianitas o venderam no Egito a Potifar, oficial da corte do Faraó, chefe dos verdugos.

A lenda de José e seus irmão, também é relatada no "Alcorão Sagrado", dos maometanos.

Na XII Surata, Surata de José, versículos 8 e 9, as intenções dos irmãos em suprimir José invejado e odiado aparece com mais clareza:

"8- Eis que os irmãos de José disseram entre si: José e seu irmão Benjamim são mais queridos por nosso pai do que nós, apesar de sermos mais numerosos e mais úteis. Certamente nosso pai está em verdadeiro erro !

9 – Matemos, pois, José ou então desterremo-lo; assim, o carinho de nosso pai se concentrará em nós e, depois de o eliminarmos, seremos virtuosos."

Túnicas talares que eram compridas, (atingindo o talão, tornozelo), com mangas longas eram privativas dos adultos. Os jovens usavam túnicas curtas, até os joelhos e com mangas curtas. E, certamente não eram somente as túnicas presenteadas pelo pai, que faziam os demais irmãos invejarem José. Ao sentir um tratamento especial de parte do pai, José humilhava seus familiares através de seus sonhos vaidosos de grandeza que eram interpretados, entendidos, pelo pai e pelos irmãos. (Ver Grinberg em seu ótimo trabalho: "La Rivalidad y los Sueños Legendarios de José.)

A esta altura cria-se uma situação insólita neste desenvolvimento em que um filho, via de regra o primogênito, era o escolhido, o único herdeiro, não só dos bens como da tradição simbolizada pela benção do pai e de Javé. Praticamente todos os filhos de Israel vêm a formar as doze tribos, dando origem ao povo judeu, o "povo eleito e querido de Javé" , em detrimento de todos os demais povos e nações.

Diná, por ser mulher, não entra na composição. José (Safanat-Paneac para os egípcios) é representado por seus dois filhos: Manasses e Efraim que teve com Asonat (Gn 41, 50-52; 41,2O) quando administrador do faraó, no Egito. Eles são perfilhados pelo velho Israel. Ao filho Levi fica a incumbência de formar a classe sacerdotal, que será hereditária. Não lhe caberá território quando da ocupação da terra "prometida". Era a repetição do que vinha ocorrendo na formação deste clã .

. A diferença é que agora não é mais um só o preferido, o eleito. Teremos um povo como o "escolhido" pelo deus-pai. "O povo eleito".

E toda a vez que o povo, agora já composto pelas doze tribos, atacava um outro povo alegava que o ataque eram ordens de Javé. Isto ocorreu na invasão de Jericó quando Jevé "parou o sol " para favorecer seus "eleitos" e nas lutas que se seguiram culminando com a tomada aos Jebuseus de Jerusalem. A ocupação final ocorreu já no reinado de David quando o monte Sion último baluarte, foi tomado dos Jebuseus.

Como se pode ver por estes episódios, e eles são inúmeros na Torá e mesmo na Tanak, como um todo, Javé o todo poderoso deus de Israel está sempre pronto a castigar, submetendo seus próprios e "eleitos" filhos aos mais violentos castigos, quando é desobedecido. Ao constatar a idolatria, quando ainda no Sinai, Moisés executa três mil de seus seguidores judeus. (Ex 32). Em Nm.16, 1-34, Coré, Datan e Abiram , da casa de Levi, tal como Moisés, se insurgiram contra este. Eram acompanhados por suas famílias e mais duzentos e cinqüenta homens. "...fendeu-se a terra debaixo deles: E abriu a terra a sua boca, tragou-os, e as suas casas e a todos os homens de Coré, e a todos os seus bens. E desceram eles, e tudo que era deles, vivos ao abismo, e cobriu-os a terra e desapareceram do meio da congregação." Em nome de Javé, ao que tudo indica, os insurgentes são enterrados vivos. Javé ( Moisés ao falar em seu nome) não perdoa os próprios filhos, que o desobedecem.

O desejo de ser o único querido, encontrado no indivíduo, nas famílias, é também notado nos grupos, religiosos ou não e nas nações, por extensão. Daí "o meu deus" é o melhor, a "minha religião é a única verdadeira". Do "meu time é o maior" até "a minha ‘raça’ é superior à tua" só há uma pequena distância a percorrer.

Javé é a representação externa do superego, exigente, inflexível, ciumento, violento e onipotente do chefe do clã , Abrão, e agora Moisés.

Os faraós se consideravam filhos do deus sol. Os quíchuas também, segundo sua mitologia, eram filhos do deus sol. E por coincidência provinham de uma união incestuosa. Manco Capac e Mama Oclo eram irmãos. Também peregrinaram. Das margens do lago Titicaca, de Tiauanaco, até Cuzco onde se fixaram passando a se imporem aos antigos donos das terras.

Os astecas da mesma forma se consideravam filhos do deus sol.

O imperador do Japão ainda hoje é tido como "o filho do sol".

Os livros tidos como sagrados e que expressariam a palavra de deus, como a Tanak para os judeus, a Bíblia (Tanak com pequenas modificações, acrescida do Novo Testamento ) para os cristãos, reproduz a situação vivida por José e seus irmãos. O predileto ( do deus-pai) pela situação criada, desperta os ciúmes, a inveja carregada de ódio contra o preferido ou que se diz o preferido. "O queridinho, ou supostamente preferido da mamãe ou do papai" é, via de regra, hostilizado pelos irmãos.

O progresso tecnológico, científico ou cultural que bem cedo as novas gerações incorporam, não encontram um paralelo no progresso emocional. Este, partindo do ponto zero, em cada um de nós, avança bem lentamente, isto quando avança, deixando ilhotas não resolvidas no decorrer da vida .

O meu deus é o único e verdadeiro, e o teu, ou os teus são falsos e devem ser destruídos, bem como os que crêem neles.

Na Torah , no Nebiim e no Ketubim (Tanak para os judeus, ou Velho Testamento para os cristãos) estas palavras de ordem são repetidamente proferidas nos mais diferentes livros e pelos profetas do "povo eleito".

TaNaK é apalavra composta pelas iniciais de: Torá (a lei), Nebiim (os profetas) e Ketubim (a sabedoria).

Em 2 Rs 10, 15-27,

Jehu mata os adoradores de Baal, destrói seus templos, fazendo de seus locais latrinas.

Para se ter idéia do que Javé ordena, nos "Sagrados Textos" com respeito às relações com os gentios ( "goyim") é interessante ler o que consta em alguns outros livros da Tanak. Como se poderá notar nestes versículos do Deuteronômio, se trata de uma síntese da Lei de Moises sobre a conduta com respeito à posse do território dos gentios, como proceder com eles, com sua religião, seus deuses, relações de convivência e casamentos mistos. A tônica é colocada no "direito conferido por Javé aos filhos eleitos": tudo lhes é permitido, em nome de serem os "filhos queridos".

Dt 7,1-6). 1) Quando te levar o Eterno, teu Deus, à terra, à qual tu vais para herdá-la, e lançar fora muitas nações de diante de ti: o Hiteu, o Guirgasheu, o Emoreu, o Cananeu, o Periseu, o Hiveu, e o Jebuseu, sete nações numerosas e mais fortes do que tu, 2) e as dará o Eterno, teu Deus, diante de ti, feri-las-ás; destrui-las-ás ; não farás aliança alguma com elas, e não lhes darás pousada na terra. 3) E não te aparentarás com elas: tua filha não darás a seu filho, e sua filha não tomarás para teu filho. 4) Porque desviará teu filho de me seguir, e servirão a outros deuses, e crescerá a ira do Eterno sobre vós, e te destruirá depressa. 5) Mas assim fareis com elas: seus altares derrubareis, e suas "Matzevot" ( altares feitos de uma só pedra) quebrareis, e suas árvores idolatradas cortareis, e seus ídolos queimareis no fogo. 6) Por que tu és um povo santo para o Eterno, teu Deus; a ti escolheu o Eterno, teu Deus, para lhe seres o povo querido acima de todos os povos que há sobre a face da terra. "

E no mesmo capítulo,

Versículo 14:

Bendito serás mais do que todos os povos; não haverá em ti homem ou mulher estéril, nem entre os teus animais. 16) E consumirás todos os povos que o Eterno, teu Deus te entregar; teus olhos não terão piedade deles.

Os gentios eram sempre considerados como idólatras: Am 7, 1- 17; 1 Sm 26, 19. A terra de Israel era considerada poluta quando nas mãos dos gentios: Jr 2, 7; 3, 2: Ez 30, 17; Os 6,10; Esd 9, 11.

O santuário era considerado poluto porque um gentio havia entrado nele, At 21, 28. Toda e qualquer espécie de comida era considerada impura quando procedia dos goyim : Ez 4, 13. Na vida cotidiana evitava-se cada vez mais tudo que provinha dos goyim: At 10, 28; 11, 3, Jo 18, 28. O matrimonio misto, desde sempre foi proibido. Ex. 34, 16; Dt: 7, 3. Sendo, posteriormente, impugnado com redobrada energia. Os profetas ao condenarem os goyim, acusavam-nos mais por sua impiedade que ameaçava influenciar Israel. Por isso seriam castigados. Restava-lhes a conversão ( aceitação das leis mosaicas e da circuncisão) para serem salvos. Aos patriarcas Javé prometera que todas as famílias da terra seriam abençoadas embora acentuassem a posição privilegiada dos israelitas: " é dos judeus que vem a salvação" : Jo 4, 22: Zc 14, 16; Sl. 87.

No Dicionário Judáico de Lendas e Tradições , encontramos no verbete "gentio" ( em hebráico: goi) : ...devido à crença cabalística de que os não- judeus não tinham alma divina. E mais, que o Casamento Misto, com o gentio, leva à assimilação e é considerado equivalente ao abandono da religião. A família , nesse caso, costumava guardar uma semana de luto, como se aquele (a) que casou com o gentio tivesse morrido. Quando se refere às "leis alimentares, para manter a separação entre judeus e gentios, de modo que mesmo certos alimentos kosher, se preparados por um gentio, são proibidos pela lei de bishul nochri; e a imitação dos costumes gentios é expressamente proibida. Como Chukat há-goi. Adiante esclarece que "as atitudes negativas para com os gentios se expressam nos termos a eles aplicados, por exemplo, "nochri"(estrangeiro), "orel" e "orelte" (homem ou mulher não circuncidados [sic]), ), "sheiguets" e "shikse" (homem ou mulher desprezivel) , "iok" e "iekelte" ( inversão onomatopéica de "goi". Ressalta, no entanto que existem "gentios justos" (chassidei umot haolam) e estes são trinta em cada geração.

Em que pesem as proibições, Abrahão teve Agar, egípcia e Keturá, como esposas. José casou com Asenath, filha de um sacerdote egípcio. Moisés casou-se com Zipporah (Séfora), filha do sacerdote midianita Jetro (Ex. III-1). Samsão, nazireu, herói judeu era casado com uma filistéia. A mãe do rei Davíd era moabita. Betsabéia, uma hitita, era mãe de Salomão filho de David.

Ao que parece a proibição era respeitada, (ou castigada) pelos mais humildes e levada pouco em conta pelos poderosos. Mas era cobrada pelos chefes religiosos. O profeta Natan acusa David pelo crime de enviar seu general Urias, o heteu, para que morresse em uma frente de combate, contra os amonitas, que lhe seria com certeza, fatal, para se apossar de sua esposa Betsabéia, tendo já muitas esposas e concubinas. ( 2 Sm 12, 1-25).

Um episódio ocorrido com a filha de Jacó e o filho do príncipe de Sichem, um heveu, relatado em Gn 34, 1-24, nos mostra uma atitude dos filhos de Jacó de intransigência e traição que o pai censurou com veemência:

O filho do príncipe e Diná se enamoraram e fornicam. O jovem acompanhado de seu pai Hemor procuraram Jacó e pedem que consentisse que casassem. Jacó acede com a condição de que todos os machos de Sichem fossem circuncidados para que se tornassem um só povo. O príncipe, seu filho e todo o povo aceitaram a imposição,sendo circuncidados. ( Gn 34, 25-31). "E aconteceu que, no terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os filhos de Jacó, Simeão e Levi, tomando cada um de sua espada entraram na cidade de Sichem e mataram todo o macho. Saquearam todo o gado levando todas as mulheres e crianças prisioneiras.

O proselitismo religioso ficava difícil. Mas houve no decorrer dos séculos várias conversões ao judaísmo. No século VII, quando Carlos Magno reinava como imperador do Oeste europeu e os maometanos dominavam o médio oriente, um povo de origem turca que vivia entre o Cáucaso e o Volga, os Khazars, adotou a religião mosaica. Tornaram-se judeus formando um estado tampão entre os cristãos ao oeste e os maometanos ao leste. Este estado, durou até o século X, aproximadamente. Os Falashas da Abissinia, os chineses judeus de Kai-Feng, os judeus Yemenitas, os judeus Berberes, são outros exemplos de conversão de gentios.

Os adeptos do rabino Yhosua ben Yosef, ( Jesus Cristo para os cismáticos judeus) na sua dissidência judaica, substituíram a afirmação de que "é dos judeus que vem a salvação" pela de que "somente através de Cristo" a salvação se daria.

Yhosua entrou em choque com dirigentes religiosos da época, ( fariseus e saduceus ) e passou a ser perseguido, sendo morto, bem como vários de seus seguidores.

Na época de Cristo, os partidos judeus, formados pelos saduceus e fariseus, eram os dois maiores, e disputavam o poder religioso e político. Os essênios que se refugiavam nos desertos estudavam os textos sacros, e oravam. Os zelotes eram minoria, mas ativos terroristas contra os ocupantes romanos.

Um dos perseguidores mais ferrenhos dos judeus partidários de Yhosua foi Saulo de Tarso. Diz-se ter sido um dos fanáticos apedrejadores de Estevão, judeu cristão que se tornou santo da religião católica por esse fato: foi lapidado por seu algozes.

Saulo era judeu, nascido em Tarso (na atual Turquia). Mais tarde, trocou de partido, latinizou o nome, passando a se denominar Paulo e veio a se tornar o codificador do cristianismo. Foi um grande catequista. São famosas suas, aproximadamente vinte, cartas aos judeus e aos gentios ( gôyim ou "gois").

Paulo substituiu o batismo judaico (circuncisão) pelo batismo com água. Chamava esse batismo a "circuncisão do coração". Assim fora batizado Yhosua por seu primo João Batista nas águas do Jordão.

Com esta abertura incruenta atraiu inúmeros gentios para a nova seita judaica. Isto já após a morte de Yhosua, a quem não chegou a conhecer. Yhosua dizia "que viera, não para combater a Lei de Moisés, mas para fazer com que ela fosse cumprida".

Os seguidores do rabino dissidente ben Yosef antes perseguidos pelos judeus e pelos romanos, passam a ser os donos do poder. Sentem-se, agora "os eleitos". Isto ocorreu após o Édito de Milão, no ano de 213, quando Constantino, imperador romano, tornou o cristianismo a religião do estado.

Não tarda que passem a perseguir e matar os que antes se autodenominavam "os eleitos" , isto é, os judeus. Alguns anos após, os maometanos, religião criada pelo profeta Maomé, um mercador árabe, também passaram a disputar a propriedade da "verdadeira fé" e do " único e verdadeiro deus". Aí antigos eleitos foram alvo da fúria vingativa e invejosa, como José nas mãos de seus irmãos.

E aqui podemos citar o pensamento, com respeito aos judeus, de Freud, judeu confesso e portanto insuspeito, encontrada em seu trabalho "Moises y la Religion Monoteista" : ( Vol. IX, pg. 3304/5 Obras Completas Biblioteca Nueva )

"Têm ( os judeus) uma opinião particularmente elevada de si próprios; consideram-se mais eminentes, de posição mais alta, superiores aos outros povos, o que os leva a se isolarem dos outros. São inspirados por uma confiança peculiar na vida, derivada de se saberem donos de uma posse secreta, de algum bem precioso, uma espécie de otimismo que as pessoas piedosas chamariam confiança em Deus. Conhecemos a razão desse comportamento e qual é seu tesouro secreto. Eles se consideram, realmente o povo escolhido de Deus, acreditam que estão especialmente próximos dele, e isto os torna orgulhosos e confiantes. Relatos dignos de fé, dizem-nos que se comportavam, nos tempos helenísticos, tal como se comportam hoje."

"Em função das relações particularmente íntimas com seu Deus, os judeus se fizeram partícipes de sua magnificência. "

E mais:

"quando se é o favorito declarado do pai temido, não se precisa ficar surpreso com o ciúme dos irmãos e as conseqüências que esses possam ter, nos mostra a lenda judia de José e seus irmãos."

E acrescenta:

" Foi Moisés quem imprimiu ao povo judeu seu caráter ao dar-lhe uma religião que aumentou sua auto-estima a tal ponto que chegou a considerar-se superior a todos os outros povos".

A parte dos judeus neste jogo sado-masoquista é a afirmação imutável na crença de que são "o povo eleito" feita reiteradamente, através de seus textos sagrados.

Por outro lado, é imprescindível, a meu ver indispensável mesmo, que o não judeu acredite no "texto sagrado" dos judeus, como a palavra de um deus que os prefere acima de quaisquer outros povos ou nações. E o desejo de ser ele "o eleito", o preferido do deus-pai.

Os cristãos e maometanos, ao acreditarem nos "livros sagrados, passam a acreditar na predileção do "deus-pai-Javé" pelos filhos eleitos judeus. E, à semelhança dos filhos de Jacó, a nutrir ódio invejoso aos "eleitos do pai".

Muitas vezes ainda encontramos no judeu a atitude de se colocar como José fazia, na posição especial, impar, frente aos outros povos, mesmo que seja na posição de vítima. Isto leva os gentios a procederem como os irmãos de José frente a ele. Com inveja carregada de ódio. Com hostilidade.

Vejamos o que nos diz Simon Wiesenthal, o judeu conhecido como "caçador de nazistas": "Israel e o sionismo limitam o holocausto apenas ao povo judeu, prejudicando assim a frente de combate contra o ressurgimento do nazismo." E acrescenta: "Temos dito e repetido até a exaustão que, nos campos de concentração, os judeus eram apenas uma minoria. Esta é uma realidade que eu mesmo vivi em Dachau e em Mauthausen. Entretanto, depois da guerra, temos chamado sobre nós toda a atenção do mundo, o que foi um erro".

Isto foi publicado no semanário israelense de idioma francês "Realidades de Israel e do Oriente Médio" e reproduzido, parcialmente, pela Zero Hora de Porto Alegre, RS. Brasil, em edição de 2 de janeiro de 1981, página 3.

Lembremos novamente Freud: que, em seu trabalho sobre a Neurose de Destino escrito em

(1920) em "Alem do Princípio do Prazer" , nos diz:

"A impressão que dão é de serem perseguidos por um destino maligno, por algum poder demoníaco: a psicanálise, porém, sempre foi de opinião de que seu destino é, na maior parte arranjado por elas e determinado por influências infantis primitivas."

Penso que o anti-semitismo só deixará de existir quando os judeus, seus derivados cristãos e maometanos, deixarem de encarar seus livros "santos" como "a palavra revelada do deus único e verdadeiro" que os tem como "os eleitos", os filhos preferidos. Quando virem esses livros como belas páginas com lendas, poesias, salmos, relatos históricos, e plenas de ensinamentos. Quando, como os gregos e os egípcios, por exemplo, passaram a encarar hoje, a história de seus deuses. Como mitologia. Bem sei que isto é uma utopia. E ao que tudo indica o problema continuara sem solução.

Para o narcisísmo de um povo que se julgava e se julga o "povo-filho-único-querido" de um "deus-pai-único" todo poderoso e onipotente e que traz a logomarca (circuncisão) do contrato que celebrou com ele, seria um golpe insuportável.

Para os cristãos e maometanos que queriam e querem ser eles "os filhos queridos-eleitos" desse deus todo poderoso , seria também uma renúncia demasiado dolorosa e traumática.

Abrir mão de uma ilusão (ser o predileto, o único querido) é por demais sofrido, mesmo que para isso se pague um preço exorbitante.

Mas muitos ainda acham que vale a pena.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

A Lei De Moises E As “Haftarot”. – Tradução, Explicações e Comentários Pelo Rabino Méier Matzliah Melamed. Florida, 1980, 3a. ed.

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro Instituto Antônio Houaiss. Ed. Objetiva , 2001.

Bíblia de Ferrara ( The Ladino Bible of Ferrara) Culver City–, Green Valley Circle # 213, , CA 90230. USA –1992. Edição Crítica: Moshe Lazar Labyrinthos, 6355

“Bíblia de Jerusalem” – Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulinas, 1981.

Bouzon, Emanuel - O Código de Hammurabi. Introdução, tradução (do original cuneiforme) e comentários.Ed. Vozes. RJ. 1976.

Bouzon Emanuel - Ensaios Babilônicos: Sociedade, Economia e Cultura na Babilônia Pré-Cristã. EDIPUCRS. Porto Alegre/RS. 1998.

Schiavo, José – Dicionário de Personagens Bíblicos, Antigo e Novo Testamento.. Rio de Janeiro - RJ. Brasil. Ed. De Ouro, 1965.

VAN DEN BORN,  A.  Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Edit. VOZES Ltda. Petrópolis, Rio  de Janeiro/RJ 1977.

Wiesenthal, Simon. Em entrevista ao semanário israelense de idioma francês “Realidades de Israel e do Oriente Médio” e reproduzida parcialmente pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre,RS-Brasil, na Edição de 2 de janeiro de 1961, página 3.

Sérgio Paulo Annes
(*) Psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.
sergio@annes.com.br