HOMOSSEXUALIDADE E AGRESSÃO AO OBJETO PRIMÀRIO

Sérgio Paulo Annes  Outubro de 1971

Trabalho com o qual obtive o título de Membro Efetivo da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre e da International Psichoanalytical Association.

“E todos os homens matam o que amam,
que de todos seja isto ouvido;
Alguns, com o olhar amargo,
Outros com uma palavra de lisonja.
O covarde com um beijo,
O valente com uma espada.”
Oscar Wilde (43)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo frisar a existência do forte componente oral-agressivo, dirigido ao objeto primário, o seio, na gênese de um caso de homossexualidade masculina. Esta agressão, de início dirigida ao seio passa a atingir a mãe, agora vista como objeto total e também, mais tarde, é estendida ás mulheres em geral. O homossexual teme as mulheres, fugindo delas, genitalmente, devido ao ódio que lhes dedica.

Outro ponto que pretendo sublinhar é que a procura do pênis (homem) pelo homossexual está emascarando a ávida busca do seio tão querido e invejado.  Os aspectos amados e valorizados do seio são colocados no pênis que passa a ser supervalorizado enquanto que os aspectos negativos reais, somados ao ódio projetado ficam no seio (mulher) do qual o homossexual passa a fugir, não só pelo medo de destrui-lo totalmente, como pelo temor da retaliação. O pênis (homem) é procurado pelo homossexual, como menos perigoso, já que, projetivamente, é visto sem a soma de agressão que a mulher representa. Sob este aspecto, o pênis funciona menos como pênis do que como fetiche, a meu ver, do seio materno. Creio estar de acordo com a idéia exposta por Freud (12) quando se refere á origem da felação: “ Não é senão a transformação de outra situação de outra situação em que todos nos sentiamos felizes e contentes, isto é, daquela em que, sendo bebês, tomavamos na boca o seio da mãe ou da ama e o chupavamos”. Ficando claro que nesta situação ele via o pênis como um substituto do seio.

Quanto á agressão, ainda na fantasia de Leonardo (12) , ela está presente, agora por identificação projetiva, vindo do seio-cola que golpeia a boca e também na mãe, representada pelo milhafre, conhecida ave de rapina.

No decorrer do trabalho será visto como a situação homossexual funciona como defesa contra ansiedades esquizo-paranoides muito intensas e como os mecanismos defensivos mais primitivos são sobejamente utilizados para manterem a dissociação.

Pretendo ser entendido que ao realçar estes pontos – componente oral agressivo dirigido ao objeto primário e o papel do pênis como fetiche do seio – na gênese de um caso de homossexualidade masculina, não implica em que eu tenha menosprezado  outros ou os considere irrelevantes.

APRESENTAÇÃO DO CASO

Por indicação de um colega vem á minha procura, para tratamento, Renato, um jovem de vinte e quatro anos, de estatura mediana, aspecto adolescente, bem proporcionado, trajando-se esportivamente, mas com apuro, dando a impressã de limpeza e cuidado consigo mesmo sem, contudo, denotar afetação. Mostra-se angustiado mas fala com desembaraço e clareza, ruborizando-se facilmente. Diz que necessita de tratamento devido a pensamentos e impulsos que passaram a atormenta-lo desde que, há mais ou menos três meses foi submetido a um exame urológico. Conta, que notando seu desinteresse pela mulheres e sua impotência  --- afirma nunca ter tido uma ereção—confiou á sua irmã que é assistente social, seu problema. Foi, por ela encaminhado a um urologista que examinou-o e inclusive lhe fez um toque retal. Desde então vem sentindo latejamento anal, acompanhado de interesse peloa genitais masculinas. Acha que não era propriamente interesse pelos homens, sua companhia ou conversa. “Eu queria era adivinhar o tamanho e ver os genitais de qualquer homem,,,” Sentiu-se tão angustiado frente a esse interesse que procurou umpsiquiatra, por indicação do urologista, pedindo para ser internado. No Hospital foi-lhe indicada insulina mitigada e tranqüilizantes. Sentiu-se melhor e teve alta. Tudo recomeçou, então, por orientação da irmã, procurou um analista.

Nesta época, Renato cursava a Faculdade de Medicina e, embora recebece uma mesada do pai, trabalhava para ajudar nas despesas. Passou a tomar alunos.

Renato é o último de cinco filhos de um casal de imigrantes. Nascido no exterior, veio ainda bebê para o Brasil em companhia de seus familiares. Seu pai, com aproximadamente 65 anos, na época em que Renato iniciou o tratamento, é um homem rude e agressivo, dedicado a fazer dinheiro através de várias industrias localizadas nos arredores da capital do Estado. Ao falar no pai, Renato não esconde o ódio que lhe dedica. Descreve-o como “um bruto, um animal”, sempre pronto a bater na esposa e nos filhos. Diz que o pai praticamente abandonou-os quando ele tinha de três para quatro anos, passando a viver ora com uma ora com outra amante, Certa vez levoum delas para sua casa obrigando a sua mulher a servi-la como se fora sua empregada. O pai sempre foi um jogador e bebe com intemperança.

Da mãe fala muito pouco, embora tenha acusações a lhe fazer. Acha que ela não deveria ter aceitado o pai de volta cada vez que ele retornava de uma aventura, nem apanhar sem reagir como era seu costume; nem deveria atiçar o pai contra os filhos com queixas e mas queixas quando ele vinha para casa, o que resultava em violentas sovas em que todos apanhavam, inclusive a mãe. Estas sovas eram tão severas que varias vezes o paciente e seus irmãos “iam para a salmoura”, como era sua expressão. Mas de todas as queixas uma era a mais importante, a mais valorizada pelo paciente: “fui desmamado com pimenta”.

Lembra que quando menino, brigava muito com a mãe, insultava-a com palavrões e também a atacava com socos e pontapés. Atualmente tem bate-bocas com ela sempre lembrando-a pelo que ela lhe fez. A mãe desde moça sofre de crises convulsivas com perda do sensório que somente há poucos anos vam tratando com neurologista competente.

Seus irmão são muito dependentes do pai e vivem a lhe pedir dinheiro. Todos têm grande animosidade contra o “velho”, como a ele se referem. O irmão mais velho, com uns doze anos mais que Renato, sempre dependeu do pai e vivia maritalmente com uma servente de um estabelecimento que o pai lhe dera para dirigir. Com essa servente teve três filhos que entregara á avó para que os criasse.

Posteriormente quando o pai tirou-lhe a direção do estabelecimento, alegando que ele era um “imprestavel”, já que com suas explosões de fúria  espantava os clientes, o irmão passou a não mais se importar em trabalhar e nem consigo próprio vivendo do que a mãe lhe dava, sempre escondido do pai que não quer mais saber dele. O segundo irmão foi criado pelos avós paternos, sempre afastado de sua família. Aposentou-se cedo e tem uma atitude pouco combativa frente á vida. O terceiro irmão vive em outra cidade e toma conta de outro estabelecimento do pai. Tem uma atitude de quem é dono do negócio não dando satisfação ao pai que, periódicamente o ameaça com a venda do estabelecimento. O quarto, na ordem cronológica, é a irmã que o encaminhou ao trtamento. Dos irmãos é para ele a figura mais importante na família. Tem ela uns seis anos mais que o paciente e “praticamente me criou” , diz o paciente. E, em seus brinquedos infantis “gostava de me vestir de menina”. Ela é sua confidente e quando juntos têm muito do que acusar os pais. Foi, com o paciente, os que, entre todos os irmãos , os únicos que estudaram. É Assistente Social bem conceituada, em cidade próxima á Porto Alegre, e, ao achar que o irmão esta melhorando, procurou, também,  psicoterapia já que, segundo dizia, tinha muitas dificuldades de relacionamento, em especial com homens. Uma outra figura importante para Renato foi e é uma tia materna que Renato não lembra. E que segundo seus familiares dizem muito gostava dele. Diziam que “vivia comigo no colo e que um dia, comigo no colo, teve um ataque caindo morta, derrubando-o no chão”.  Sente-se muito ligado à ela e não deixa de ir à cidade em que ela está sepultada, para limpar e enfeitar com flores seu túmulo, no Dia de Finados.

Renato tem a intenção de se especializar em otorrinolaringologia.
Tomei o paciente embora não dispusesse mais do que duas horas semanais dizendo-lhe que logo que pudesse aumentaríamos para quatro, com o que ele concordou.

A sensação que tive ante o paciente foi a de estar diante de um “adolescente em pânico” mas com muita vontade de se tratar já que vinha há algum tempo em busca de auxílio. Por outro lado mstrava interesse pelo trabalho e também pelos estudos. Achei que era de tentar ajuda-lo, embora soubesse das dificuldades que teria de enfrentar.

TRATAMENTO

Desde a primeira sessão Renato mostrou-se muito loquaz. Falava incessantemente, não suportando o silêncio mesmo por poucos minutos. Seu tema preferido era o pai, de quem falava com muita raiva, sempre a acusa-lo. Em muitos meses de tratamento só poucas vezes se referiu à mãe, acusando-a de submissão frente ao pai e de have-lo desmamado com pimenta. A mãe se defendia atribuindo o desmame a amante do pai que morava com eles, na época. Disse que depois de desmamado, passou a mamar na mamadeira até os dez anos de idade, mais ou menos, quando ele mesmo preparava a mamadeira.e que de quando em vez, na ausência do pai, ainda dava umas mamadas na mãe.

Quando veio para o tratamento, Renato ainda tomava uns quatro comprimidos de  tranqüilizantes por dia, quando iniciou o tratamento.
Em seus devaneios seus pensamentos, muitas vezes se centravam na morte do pai e como iria gastar a herança, que imaginava, toda, somente  para ele, j’a que, segundo ele era o único dos filhos que tinha o sobrenome grafado na certidão, bem como o do pai. O pai, para fugir de compromissos, logo após casar, alterara o sobrenome, voltando a grafa-lo corretamente na época em que o paciente nasceu. Também devaneava em ajudar a mãe e a irmã, mas quanto aos irmãos,,, ”que fossem capinar...”  

Poucos meses após o início do tratamento, Renato começou a procurar homens para com eles Ter relações sexuais, nas quais desempenhava o papel de “penetrado” (7). Somente decorridos alguns meses é que me relatou o que passara a fazer. Procurava-os nos coletivos, nas praças ou nas imediações de quartéis, de preferência soldados ou que lhe parecessem de baixa condição social, optando ainda, pelos de cor  preta. Sua escolha recaia nos que lhe pareciam os mais desvalorizados de quantos encontrava. Logo que se aproximava, conversava muito, não podendo ficar calado um instante sequer . Fazia-lhe confidências, procurava beija-los, “como se estivesse enamorado” e, a seguir segurava-lhes o pênis para avaliar seu tamanho. Se não achasse o pênis, suficientemente grande, arrumava uma desculpa e tratava de ir embora. Caso contrário seu interesse aumentava, bem como surgia o medo de ser machucado. Os encontros ocorriam em lugares ermos. Negava que sentisse prazer durante a cópula, ao contrário, sentia somente dor. As vezes, tinha ereção. Logo que sentia a ejaculação do parceiro, dava-lhe uma importância em dinheiro, a qual já trazia à mão. Imaginava que este dinheiro serviria para que o companheiro se alimentasse ou comprasse cigarros. Se afastava correndo. Com relação às pessoas com quem tivesse relações, tomava, invariavelmente a mesma atitude: “para mim é como se tivessem morrido, não me interessam mais e se ocorre encontra-los , faço como se nunca os tivesse visto.

Após esses encontros, sentia um grande alívio que era seguido de um misto de vergonha e culpa, julgando-se “a pior das criaturas”. Nestas noites  -- seus encontros eram sempre noturnos – dormia muito mal e seus sonhos eram povoados ao quais esquecia ao despertar.  Lembrava, as vezes, fragmentos dos sonhos, que em seu conteúdo manifesto se relacionava com a morte do pai. 

O paciente lecionava e com o que ganhava conseguia o indispensavel para suas necessidades básicas. Do pai recebia uma quantia para os extras e para pagar pagar o tratamento. Muitas vezes expressou  sua satisfação por dar um prejuízo ao pai e assim se vingar dele. Isto com relação ao dinheiro que gastava no tratamento. Quando lhe sobrava algum dinheiro, “botava fora” para agredir o pai. Nos fins de semana, ocasião em que poderia visitar os pais que moravam nos arrederes da cidade, surgia com maior intensidade o impulso a “procurar alguém”     ou “caçar” como também denominava  o impulso a procurar homens. Era um impulso tão intenso que de nada lhe valia a ele se opor. Ia como um autômato rondar os quartéis. Levava na carteira pouco dinheiro, pois temia ser roubado, e  como se fosse um documento levava um fotografia do pai. Imaginava-se atacado, ferido, maltratado e até morto por algum homem do qual se aproximasse. Caso isto acontecesse a polícia chamaria seu pai, localizado através da foto e o pai ao deparar com o corpo do filho o necrotério, morreria de um infarto.

As minhas interpretações eram feitas no sentido de faze-lo ver seu desejo de receber muito e com exclusividade dos pais e de ataca-los, matando-os porque isto não acontecia. E como se sentia culpado por ser assim, tanto que procurava satisfazer esses desejos  de um modo doloroso para ele e que ao mesmo tempo o enchia de vergonha. Mostrava a ele, outras palavras, o conteúdo oral de suas atuações e como elas estavam carregadas de ódio e culpa , estabelecendo no plano o paralelo com suas relações comigo: vinha para as sessões, também “automaticamente” , como dizia que saia para procurar homens, que aqui também não podia suportar o silêncio, já que falava sem um momento de pausa, como fazia em seus encontros lá fora. Renato, via de regra repelia as interpretações no plano transferencial  dizendo que comigo não tinha nem queria ter nada.  E eu lhe mostrava que comigo, procedia como com a sua mãe que queria manter fora, que aqui não aparecia. Que desejava nos proteger, eu e mãe, por não nos achar suficientemente fortes, como via o pai, para suportar sua agressão que julgava destrutiva e mortal. Alguns meses após o início das relações homossexuais, teve uma furunculose peri-anal que o impossibilitou a continuação desse tipo de relação. Na mesma época contraiu sífilis, que só foi diagnosticada quando surgiram lesões cutâneas típicas. Após forte resistência a procurar um tratamento terminou por aceita-lo Procurava, então companheiros para masturba-los. Seu comportamento era idêntico ao que tinha quando procurava parceiros para relações anais. Sentia-se esvaziando, roubando o parceiro, o que procurava remediar  dando dinheiro para que ele comprasse cigarros ou “tomasse uma taça”’.  

Mais tarde, ainda impossibilitado de práticas anais, devido a uma fístula anal, iniciou a prática da falação. Para falar nisso, levou bastante tempo, e quando se animou a contar, me acusou de te-lo levado a isto, já que eu lhe mostrava que em seus coitos anais seu anus funcionava como uma boca voraz que queria mais e o maior possível.

Na felação Renato apresentava os mesmos sentimentos já relatados, que acompanhavam as práticas anais: quando a ansiedade aumentava, a idéia que o dominava era a de “procurar alguém para chupar”. Seus objetos continuavam a ser os mesmos desvalorizados de antes  --soldados e negros de preferência --  e o requisito indispensável era o mesmo também era o mesmo: o pênis deveria ser o maior possível. Ao se aproximar do homem escolhido, já sua entidade diminuía. Não errava na escolha, isto é, sempre era aceito quando escolhia alguém. Logo que se chegava e começava a conversar segurava o pênis do companheiro, procurando avaliar seu tamanho. Se o achasse suficientemente grande, no próprio local, avidamente, o chupava. Ao receber a ejaculação, pagava com o dinheiro que já trazia na mão, cuspia fora o esperma e se afastava rapidamente , via de regra, correndo. Eu lhe mostrava que, também, se aproximava avidamente do pai

  1. o paciente, algumas vezes, ao pretender dizer: “pai”, dissera: “pau”, palavra que usualmente utilizava para designar o pênis.—queria muito dele, o mais possível  ( pênis maior possível – queria muito dele e o que obtinha, “botava fora”, como ele próprio dizia. Que também tomava uma atitude de constante desvalorização do pai, inclusive tratando-o mal dentro dele mesmo e que esta voracidade  e agressividade lhe davam muita culpa e que se maltratava devido a isso.

No plano tranferencial, por inúmeras vezes, mostrava a ele como suas vindas às sessões eram como seus encontros lá fora, precedidos de ansiedade, seguido de alívio ao chegar. Como então, falava sem poder suportar o menor silêncio, pois calar, significava estar mamando em mim, já que lá fora só fazia silêncio na hora em que chupava. Como cuspia fora as interpretações ( o leite que queria)  que eu lhe dava. E sua preocupação em me indenizar já que se sentia muito mal se não me pagava, exatamente no último dia de cada mês. E mais, como saia das sessões: era comum sair correndo da sala até os elevadores. Também era mostrado ao paciente, que em sua relação com sua mãe valorizava tudo o que ela  não lhe havia dado ou que lhe havia tirado, negando importância ao que dela havia recebido, e como assim, por um lado a atacava em suas críticas, por outro a protegia de seu enorme apetite.  E que isso  também fazia comigo, já que lá fora me elogiava a seus amigos e conhecidos, e muito ávido esperava sua sessão, por outro lado. Aqui, rechaçava, não “engolindo” o que eu lhe dava, inclusiva mais horas de análise, semanais. Quando me foi possível dar-lhe mais horas, recusou-as, aceitando somente após seis anos de tratamento, aumenta-las para três, embora continuasse praticamente com duas, já que faltava, sistematicamente, uma por semana. Esta atitude tinha, também, como motivação, sua intenção de me tornar seu cúmplice na agressão ao pai que pagava o tratamento.

Renato fantasiava seguidamente com suicídio, mas de maneira a parecer que fora vítima de um ataque. Expunha-se a situações perigosas: guiava temerariamente, “tirando fininhos” dos outros veículos, “batendo recordes” , ou deixando que outros veículos passassem bem junto a ele, quando a pé. O exame dessas atitudes, relacionando-as com suas atitudes de auto-destruição, permitiu que se desse conta de quanto odiava os pais em si próprio e o quanto se condenava por ataca-los. Por ocasião de um episódio ocorrido em um hotel desta cidade, quando um homossexual fora agredido, morto e ainda sofrera tentativa de cremação, pode o paciente examinar melhor aquela sua parte agressiva que tanto o ameaçava. O paciente suportava muito mal ser bem tratado. Fugia das pessoas que o tratassem com certa deferência ou lhe mostrassem estima.

Após o terceiro ano de tratamento, tentou Renato uma aproximação com uma jovem, mas perto dela se sentia angustiado. Era uma sensação de perigo eminente que aumentava quando a tocava. Após alguns meses, rompeu com ela, pois concluiu que era impossível, mesmo, uma aproximação com mulheres.

Quando is ver os pais, Renato tinha, invariavelmente, grandes discussões com eles, acusando-os de terem desgraçado a vida dos filhos. Ao voltar da casa dos pais, ia diretamente procurar um companheiro para a prática da felação.

Pouco tempo após romper com a primeira namorada, passou a se interessar por outra jovem. Esta, conseguia beijar, mas tomava precaução para não ficar a sós com ela. Quando não podia evitar essa situação, ficava distante e evasivo e tratava de ir-se. Temia que seu pênis entrasse em ereção e que a jovem pudesse percebe-lo. Passou então, a levar , quando ia a casa da namorada, um casaco, um livro, ou mesmo um casaco na mão. Utilizava-os para coloca-los entre ele e a namorada, evitando assim que ela se chegasse muito. Ao examinarmos essas atitudes, surgiram fantasias nas quais se via atacado no pênis, caso a mulher se apercebesse que o paciente tinha um. Temia ser atacado com a mesma voracidade com que os atacava em suas práticas homossexuais. Imaginava, também, os genitais femininos providos de ventosas e de dentes ameaçadores.

Quando saia da casa da namorada, onde ia aos sábados, dirigia-se compulsivamente, à procura de alguém a quem chupar. Agora já se opunha ao impulso. Fazia então, voltas e mais voltas, caminhando vários quilômetros numa noite, as vezes, até de madrugada.       

Ao cursar o último ano da Faculdade, portanto às vésperas de se formar, começou a ir mal nos estudos, o que nunca antes havia acontecido em sua vida de estudante. Do exame desta situação vimos que o paciente, ao se formar temia perder o pai como fonte de satisfação oral. Dizia que formado o pai não mais quereria ajuda-lo a montar o consultório, e se o ajudasse o deixaria na situação, de daí por diante se bastar sozinho. Nesta época passou a discutir e brigar mais com o pai, acusando-o sempre. Durante meses esperou uma carta ou telegrama que noticiaria a morte do pai. E, passou, sem se dar conta, a trajar luto. Pretendia, magicamente, realizar sua fantasia de morte do pai, desse modo.

Durante o quinto ano de tratamento, deixou de usar tranqüilizantes. Também, nessa época, conheceu uma jovem professora, Luiza, que mostrou muito interesse por ele. Achava Luiza, muito compreensiva e afetuosa. De início, ao notar o interesse dela, entrou em pânico, mas aos poucos foi se aproximando dela. Nas ocasiões em que notava que ela queria uma maior aproximação, se afastava, muitas vezes intempestivamente. Seu maior era de que ela quizesse beija-lo ou ser beijada. Se bem que criticasse a idéia, chamando-a de irracional, temia ser atacado pela boca de Luiza. Várias vezes saiu, diretamente da casa de Luiza, à procura de homens para chupa-los.

Ao terminar o curso, Renato montou um consultório em cidade vizinha de Porto Alegre, e posteriormente, com a ajuda do pai, comprou a sala onde se instalara. Meses após começar a trabalhar, começou a pagar, de seus proventos, seu tratamento. Desde o início seu trabalho foi muito em aceito, tanto pelos colegas como pelos clientes. Estes teciam elogios à sua delicadeza, pois não sentiam dor ao exame, nem durante o tratamento. A maior preocupação de Renato era conservar e recuperar, criticando a atitude de recorrer prontamente à cirurgia, como muitas vezes os próprios clientes sugeriam. Seu comportamento foi examinado, não só sob o aspecto de seu temor diante de sua agressão e destrutividade, como também de seus impulsos reparadores.

Os problemas de Renato com os pais passaram a se repetir agora, com os clientes. Notava a sua agressividade contra eles, bem como sua dependência, o que o levava, muitas vezes, pelo medo de ser abandonado, a se submeter a imposições, principalmente no terreno dos pagamentos. Pacientes marcavam e não compareciam, o que para ele representava perda total, já que trabalhava com hora marcada. Nestas ocasiões, muitas vezes reagia com grande irritação, vindo a perder os clientes, bem como o  dinheiro. Assim, atacava e se castigava. Outrs vezes, atendia-os e não se animava a cobrar, o que incrementava sua agressividade contra eles, pois se sentia roubado. Estas atitudes, via-se no trabalho analítico, representavam uma acusação a mim e também uma competição, já que eu lhe cobrava as horas em que ele faltava. Queria mostrar que era uma mãe melhor que a sua tinha sido e melhor que a “mãe analista”.

Continuava interessado em Luiza, de quem se aproximava cada vez mais. E, agora no sexto ano de tratamento, com propósito de casamento. Suas atuações homossexuais continuavam, se bem que com menor freqüência e sem o carater imperativo que apresentava no início do tratamento. Muitas vezes tentava obter de mim uma proibição ou mesmo uma crítica, outra, me acusava de pretender que ele se casasse como era o desejo, muitas vezes expressado por seus pais. Ao Ter a primeira ereção, por ocasião de uma aproximação com Luiza, sentiu-se, inicialmente, eufórico, mas em seguida passou a me ver como um inimigo que o empurra para o perigo. Gradativamente foi vencendo seu temor, passando a se permitir maiores aproximações que o levaram a manter relações genitais com a noiva. Estas, de início, foram com ejaculação precoce. Algumas vezes saia da casa de Luiza muito assustado e ia procurar alguem para chupar. No sétimo ano de tratamento já vinha tendo relações genitais satisfatórias com Luiza e seus propósitos de casamente foram levados a termo. Passou uns seis meses sem contatos homossexuais, embora o impulso surgisse ainda.Quando a esposa engravidou, e num período de férias da análise voltou a procurar parceiros. Nos períodos de férias do tratamento, as atuações se incrementavam – voltando a procurar “alguém” como ele dizia. Ao nascer seu primeiro filho, passou por um período de grande agressividade com a esposa, voltando à felação, ao ver o filho mamar, pela primeira vez. Comentou que lhe pareceu, o filho mamando, esganado e repulsivo. Chegou a espressar esse pensamento na presença da irmã que lhe disse: ” e tu que mamaste até os quatro aos e ficaste na mamadeira até os dez ! “ Isto muito o surpreendeu, mas acha que deve Ter sido assim mesmo, já que recorda ele mesmo preparando sua mamadeira, mas afirma: “eu me nego a aceitar que eu tenha sido amamentado todo esse tempo...”

Através de uma sessão transcrita na época, poderemos Ter uma idéia mais clara do caso:
Sábado, 19 de setembro:
Na sessão anterior a esta, o paciente fez várias queixas. A primeira dizia respeito à atenção que ele imaginava que eu dispensava aos outros pacientes. Depois, ao temor que tinha de que eu lhe desse alta baseado nas suas informações de que vinha se sentindo muito bem. Queixou-se, também de sua situação econômico-financeira, não que estivesse mal, mas comparando com a que imaginava que eu desfrutava. Todo o tempo manifestou temor de que eu me irritasse com ele e que, em conseqüência de suas críticas, passasse a ir mal de vida. Nesta sessã foi-lhe mostrada sua voracidade. ( Eu lhe dizia: “esganação”, que era o termo utilizado por ele. )  sua inveja e ciúmes e que eu o atacasse com esse s sentimentos, vingativamente, mandando-o embora.  E, que através dessa alta eu o estaria “desmamando com pimenta”, como dizia que sua mãe fês com ele.
Terça-feira, 22: Não compareceu.
Quinta-feira, 24: Não compareceu
Sábado, 27:
Entra, cumprimenta e deita. Noto que está ruborizado. Começa a falar imediatamente como sempre:
-- Terça e quinta eu vim até aqui à porta de seu consultório e voltei correndo. Quando cheguei no elevador, resolvi descer pelas escadas, de medo de me encontrar com o Sr. Aí fui até à rua da Praia e fiquei a olhar paus e a pensar em pegar um bem grande para mim. Terminei não fazendo nada disso e fui embora trabalhar. Às vezes tenho medo de enlouquecer...

  1. Tens medo é de perder o controle sobre teus impulsos e de não poder conter tua vontade de mamar em mim, como ocorria em relação à tua mãe, por isso é que foges daqui de mim.
  2. Decerto é, mas não posso nem fantasiar com o senhor... mas fico com medo de ficar só, abandonado, não vindo cá.
  3. A Luiza (esposa do paciente) me contou de um rapaz de quarenta anos que vive com a mãe, e por conta dela. Achei aquilo horrível. Não sei porque vivo criticando o senhor para a Luiza. Sinto uma raiva...
  4. Com a raiva de mim te sentes protegido de tua vontade de ficar agarrado e mamando em mim indefinidamente, como querias ficar là com a tua mãe.
  5. As vezes penso: pai ! não posso ir mais lá.
  6. Disseste: pai.
  7. Não notei, quis dizer: bah !  não posso ir mais lá.
  8. Para evitar os teus impulsos de me procurar para mamar, procuras lá fora os homens (paus) como fizeste ao procurar teu pai para evitar a tua mãe. Assim pretendes, também, nos proteger, a tua mãe e a mim, destes teus impulsos.
  9. Penso que o senhor é que tem que dar um jeitinho de me pegar... Trato mal os clientes, mando longe, chuto muitos deles com uma raiva medonha... Só não vejo nada aqui com o senhor. Quer dizer, já vejo, mas digo para mim mesmo que não é com o senhor, que aqui não existe nada. Quando não venho fico me condenando. Digo que com o senhor não há nada. Mas então porque é que eu fico tão intranqüilo ao vir cá ?... Não posso me imaginar bem com o senhor... Um colega me falou que anda apaixonado. Eu achei formidável, mas aí está uma coisa que eu nunca senti por ninguém. Não sou expontâneo nem com a Luiza e ela deve notar a minha frieza. Aqui também sou assim. Pensei em lhe trazer as fotografias do casamento, para lhe dar, mas não consigo.  Estou aqui há tanto tempo e sempre este ressentimento... É aqui, é em casa... Eu tinha vontade de me dar, expontaneamente, de me apaixonar... Todos me acham bomzinho e simpático e não sou nada disso. Trazer as fotos seria eu lhe trazer afeto. Ficar louco, seria de raiva, não é ?  Arranjo uma desculpa e não venho.
  10. Temes mostrar, aqui comigo, o quanto me queres. Sempre estás a me avisar o quanto te sentes perigoso e destrutivo, com teu querer mamar, sugar, Ter tudo para ti, por isso procuras me manter afastado de ti, protegido de tua esganação. Assim como sentes tuas relações com tua mãe. Ao mesmo tempo que procuras nos proteger de teu apetite raivoso, também nos proteges de uma possível vingança, de um revide nosso.
  11. Não consigo chamar a Luiza de “meu bem”, de “querida”, trata-la como ela me trata. Só a chamo pelo nome. Com ela também tenho medo...

Ando entusiasmadíssimo com o filho que vem aí compramos muitas coisas, roupinhas...
Vi na TV, no programa “Quinta Dimensão” um homem horroroso e pensei que se a Luiza visse o programa o nenê sairia assim. Ás vezes  me parece que ele pode nascer aleijado... Seria um castigo... Parece até que eu quero...

  • Estas me dizendo que gostas do nenê, mas que também sentes ciúmes, raiva dele pela atenção que ele recebe da Luiza. Com essa raiva tu o deformas, o aleijas, mas isso seria, também, um castigo, para ti.
  • Luiza abortou aquela vez, e eu as vezes penso que seria até melhor que acontecesse de novo.  Faço força para mostrar carinho com a Luiza. As vezes imagino a Luiza com oito meses de gravidez, sem poder dirigir. Aí não poderá me levar e me buscar no consultório. Então não agüento e saio a “caçar”. Homem é fácil, consigo á hora que eu quiser.
  • Não suportas a idéia de vires a ser desmamado, que é como tu sentes a chegada do nenê. Deixado pela Luiza. Como tens medo de seres deixado por mim, por eu saber que queres mamar muito, e com muita raiva, em mim, já que  para ti o teu desmame com pimenta se deveu á tua voracidade e agressividade para com tua mãe.
  • É, entendo isso, mas fujo. Lá em casa... não sei se é assim. Nunca dei carinho expontâneo para a Luiza. Ando sem vontade de Ter relações com ela. Ontem tive e me senti muito bem com ela e ela também se sentiu bem comigo. O doutor dela recomendou que ela não tivesse relações no período que correspondesse ao das menstruações. Eu poderia procurar ver que dias seriam, mas não, nem ligo. A mulher de um cliente meu, foi cortada, fizeram episiotomia na hora do filho nascer e agora é ele quem faz os curativos nela. Achei isso horrível, me assusta, eu não poderia nem ver isso. Penso na Luiza abortando, não tendo mais filhos... Um foi e eu botei toda a culpa nela...
  • O teu desejo é de te relacionar afetuosamente comigo, como lá com tua mulher e como foi com tua mãe, mas temes que tua voracidade, teus ciúmes, me ataquem e destruam o resultado do tratamento, que seria o “filho” de teu  relacionamento comigo. Para evitar os períodos perigosos de muita raiva, faltas aqui, ás sessões como te afastas da Luiza pelo temor de danifica-la. Isto foi o que ocorreu em tua relação com a tua mãe que vias atacada e morta por ti em cada ataque epiléptico. Para evitar a destruição dela passaste a procurar no teu pai  o seio (pau) que querias que tua mãe te desse, sem o perigo de destrui-lo, já que ele te parecia mais forte que ela.

REVISÃO DO CONCEITO DE HOMOSSEXUALIDADE

Freud (11), em “Uma Teoria Sexual”, trabalho datado de 1905, foi o primeiro a combater o conceito de que a homossexualidade era uma enfermidade degenerativa. Não excluindo completamente os fatores constitucionais, chamava a atenção para o componente psíquico na sua formação. Acreditava Freud que fatores vários, da experiência e vivências estruturados sobre  a bissexualidade inerente à natureza humana, influenciariam na formação das perversões.Para ele, o bebê era um “perverso polimorfo” . Afirmava que a compulsão que impele os homossexuais masculinos, aos homens, está condicionada por uma fuga da mulher. Os fatores que mais chamaram a atenção de Freud na vida infantil do homossexual masculino foram os seguintes: intensa fixação à mãe ou substituta; escassez de cuidados pessoais por parte da mãe; identificação com a mãe e busca nos homens, sua própria pessoa, procurando ama-los como sua mãe os amou (eleição narcisística de objeto) ; persistência da importância erótica da zona anal; intimidação precoce pelo pai enérgico, durante a infância; concorrência com o pai e medo dele; educação do menino por homem. Considerava pois a homossexualidade como um fenômeno do id, que, se reprimido, causaria a neurose e que seria pouco susceptível de modificação ulterior. Mais adiante, à medida que ia desenvolvendo a teoria do ego, passou a uma atitude mais otimista quanto às possibilidades terapêuticas.

Em 1910 retoma Freud (12) o tema, agora com seu importante estudo da personalodade infantil de Leonardo Da Vinci, feito através de uma fantasia infantil em que Leonardo é golpeado na boca pala cauda de um milhafre, numa alusão  a uma amamentação (felação) em que o seio-pênis  figura a um tempo com atributos amorosos e agressivos, já que o milhafre é, sabidamente, uma das mais cruéis e sanguinárias aves de rapina. Esta senda é abandonada quando acrescenta: “mas de momento, queremos prescindir de investigar as relaçÕes que podem unir a homossexualidade com o ato de mamar no seio materno”. Neste trabalho Freud aceita, implicitamente, que a perversão é uma defesa, o que admite, explicitamente em “Uma Criança é Surrada”, (14) seu trabalho seguinte, sobre o tema, chegando à conclusão que todas as perversões se relacionam com o complexo de castração.

Em seu trabalho subseqüente (13) , quando estuda o caso Schreber, valoriza o conceito de fixação da libido sob a influência do Complexo de Édipo. E 1932 (17) volta a lembrar que “uma parte considerável do erotismo anal fica convertida em carga afetiva do pênis, mas o interesse por esta parte do corpo tem, além da raiz erótico-anal, uma raiz oral talvez mais poderosa ainda”. Agora, em 1921 (15), tratando da Psicologia das Massas e da Análise do Ego, volta a reafirmar seus pontos de vista anteriores sobre a gênesis da homossexualidade: fixação na mãe e perda da mesma no sentido do Complexo de Édipo, e identificação com a mãe. O componente hostil-agressivo é visto, mas em relação ao pai ou  aos irmãos rivais, e a mudança para uma atitude erótica é explicada  por motivos econômicos, pois só assim, há probabilidade de satisfação ou descarga. Pela última vez, em 1922 (16) aborda Freud,  em um trabalho, os mecanismos geradores da homossexualidade. O desprezo, a repulsa e até horror à mulher, são atribuidos à  descoberta que ela é desprovida de pênis. Ao responder a carta da mãe de um homossexual, isto em 1935 (18), Freud, mostrando uma grande tolerância e compreensão fala das limitações do tratamento psicanalítico desta “detenção do desenvolvimento psico-sexual”.

Seguindo os passos de Freud, Abraham, (1) já em 1908, ao abordar as relações psicológicas entre a sexualidade eo alcoolismo, conectava a homossexualidade com o alcoolismo através de seu componente oral. O mesmo autor (2), em “A Primeira Etapa Pre-genital  da Libido”, nos fala da ambivalência do distônico melancólico, que dirige junto com seu amor o impulso de incorporar, devorar e destruir o objeto. Ainda em “Breve Estudo do Desenvolvimento da Libido à Luz dos Transtornos Mentais” (3) mostra a semelhança entre o dedo, pé, cabelo, fezes e traseiro com o pênis e deste com o seio e como uma parte do corpo pode, de um modo secundário, representar a outra. Neste mesmo trabalho, grifa o desmame como um ponto crítico na evolução psico-sexual da criança. Abraham (4) também procura mostrar que “os traços que correspondem aos fenômenos clínicos de caráter anal, estão construídos sobre as ruínas de um erotismo oral cujo desenvolvimento foi malogrado”. E mostrando o caminho tão bem utilizado por Melanie Klein com seus pequenos pacientes, em sua orientação terapêutica, afirma: “... o primeiro passo, e talvez por isso, o mais importante que efetua o indivíduo para a consecução de uma atitude normal em suas relações sociais e sexuais finais, consiste num adequado tratamento de seu erotismo oral”. Ainda sobre os problemas referentes ao hábito de succionar, mostra como isto pode ser realizado de forma alterada através dos esfíncteres. Citando M. J. Eisler, (8) em 1921, concorda com ele quanto às fontes  orais da inveja.

Sem dúvida, o maior impulso no estudo e compreensão  da vida infantil, tendo como base, principalmente, as idéias de Freud e Abraham, foi dado por Melanie Klein em vários de seus trabalhos ( 27, 28, 29, 30, 31 e 32 ). Esta autora, ao se referir à atitude defensiva da menina frente à feminilidade, está se referindo também ao desenvolvimento sexual do menino, já que, nas primeiras etapas, eles correm paralelamente: (27) “a defesa da menina, frente a sua atitude feminina, surge, menos de suas tendências masculinas, que do medo de sua mãe. O medo de ser devorada, cortada em pedaços ou ser destroçada pela mãe, surge da projeção de seus próprios impulsos da mesma natureza sádica contra ela. Se a menina está demasiado assustada com a mãe, não poderá ligar-se suficientemente ao pai e seu complexo de Édipo não surgirá ”. “As frustrações orais reforçam suas tendências destrutivas contra o seio da mãe. A separação deste, incrementa os impulsos sádicos orais em que deseja atacar o interior do corpo da mãe. A inveja da mãe, por ser a possuidora do seio e da gratificação oral mutua que sobre a base de suas primitivas teorias sexuais, imagina que seus pais obtêm na cópula, aumenta a separação da mãe. Estes fatores são auxiliados pela equiparação do seio ao pênis. Assim, se a introjeção do seio foi feita tendo como predominantes os impulsos agressivos da criança, tanto este como o pênis lhe parecerão onipotentemente destrutivos”.

“Se o menino teve uma relação homossexual na primeira infância, sem maiores problemas, tem uma boa oportunidade de moderar o ódio e o medo ao pênis do pai e de reforçar a crença num “pênis bom” passando a ver o pênis do pai, tanto o real como o internalizado, não como perseguidor, passando a ver do mesmo modo seu pênis, não destrutivo e perseguidor” (27).

Entende-se então que a presença de um pai compreensivo e tolerante poderá corrigir a imagem internalizada de um seio-pênis sádico, possibilitando ao menino uma reaproximação da mãe, na pessoa de outra mulher, agora com intuitos reparadores.

Glover, em trabalho datado de 1943 (22), vê na homossexualidade sistematizada e habitual uma defesa contra ansiedades mais evoluidas, genitais, e também uma defesa contra ansiedades primitivas provocadas por fantasias de perversões mais profundas. Concorda com Melanie Klein quanto a não ser possivel estabelecer relações estáveis antes da resolução das ansiedades primitivas e que a sobrecarga destas determina o aparecimento de sintomas ou perversões com o fim de evita-las. Com referencia ao tratamento da homossexualidade (23), em trabalho realizado na Clínica Portman, quando foram tratados 113 casos dos quais 23% eram neuróticos, 8% psicopatas, 2% psicóticos, 3% apresentavam deterioração mental orgânica e 54% sem desordens mentais marcadas, chega a conclusão que a terapia alcançou êxito (perda do impulso homossexual) nos casos em que houve um certo período de homossexualidade aberta, ao lado de interesse heterossexual. Os tratamentos longos tiveram êxito em certa medida atingindo em especial os pacientes situados na faixa ao redor dos trinta anos. Nos pacientes antigos na prática homossexual o tratamento pode não diminuir o impulso, mas o comportamento pode vir a ser mudado no sentido de maior controle e discrição. A falta de desejo de mudar e os casos em que a homossexualidade está aliada á dependência ao álcool  a psicoterapia pode não ter sucesso.

Fenichel (10) expõe e esposa as ideias de Freud expressas ao longo de sua obra. Ressalto aqui, tendo como objetivo o diagnóstico do caso que ilustra este trabalho, a diferença que estabelece o referido autor entre neurose e perversão: “na primeira, o sintoma está ‘dessexualizado’ enquanto que na perversão é um componente da sexualidade infantil, e mais, na neurose a descarga é penosa, enquanto que na perversão acarreta o orgasmo genital”.

Rosenfeld (35) concorda com Melanie Klein no que diz respeito à homossexualidade como defesa contra ansiedades paranoides ocultas em homossexualidade mesmo não manifesta e de tipo não psicótico. Procura demonstrar que, fracassando a homossexualidade, surge a paranóia, pois aquela se prende à idealização da figura do pai bom para negar a existência do perseguidor. Assim, é um recurso usado pelo sistema de defesa maníaco. Mostra a importância dos processos projetivos nos homossexuais. Também acha que a fixação na posição paranoide pode ser responsável pela combinação freqüente da paranóia com a homossexualidade.

Thorner (41) procura mostrar a relação entre distintos tipos de situações homossexuais e angustias paranóides e depressivas.

Bergler (6) enfatisa que a base da homossexualidade é uma regressão oral na qual o menino tenta uma solução fantástica negando a dependência da mãe e consolando-se com a posse em seu próprio corpo de um órgão similar ao seio perdido, isto é, o pênis, surgindo daí a ridícula super-valorização do “substituto do seio”, o claramente marcado “orgulho fálico” do menino. Uma das muitas soluções anormais deste primitivo conflito se encontra nos homossexuais. A raiva do seio causador da decepção os faz rechaçar o sexo a que está vinculado o seio: as mulheres. Passam a procurar a duplicata de seu próprio mecanismo de defesa, o pênis. Toda a análise do homossexual confirma o fato de que atrás da frenética perseguição ao orgão se oculta o seio decepcionador. A característica específica do é que a estrutura narcisística acentua este mecanismo --  regressão oral – marcadamente. A arrogância também se deve  a esta estrutura narcisística, devido à qual  eles se recuperam só parcialmente do desmame, que foi vivido como uma derrota. Quando se iniciam na vida hetero-sexual passam por um período de ejaculação precoce, negando assim às mulheres, o leite que “derramam antes que possa chegar-lhes à boca”. Vivem na base do ódio às mulheres. Diz ainda o autor serem os homossexuais colecionadores de injustiças, devido ainda a seu conflito gerado pela regressão oral-masoquista. Como requisitos para o tratamento aponta: a) desejo de recuperação (sem um sentimento interno de culpa que possa fazer uso analiticamente nada é possível sob o ponto de vista terapêutico) e, portanto, aceitação voluntária do tratamento.; b) volume de tendências auto-destrutivas não exageradamente grande; c) preferência pela homossexualidade real à fantasia homossexual, ao iniciarem o tratamento; d) que não haja uma dependência psíquica  completa da mãe; e) que não persistam motivos para manter a homossexualidade como meio de agredir a família odiada. O autor chama a atenção para as “fugas para a saúde” e para o “êxito por temor” que surgem com o objetivo de proteger da análise capas  que estão por ser atingidas. Chama de êxito na terapia a ausência completa da atração pelo mesmo sexo, prazer sexual normal e mudança caracteriológica.  E fracasso, a reconciliação do homossexual com sua perversão, realizaç    ao de coitos hetero-sexuais como dever sem interesse e  a conservação da atração pelo mesmo sexo. Critica a atitude terapêutica que procura reconciliar o homossexual com seu "“destino" procurando, simplesmente, torna-lo um “homossexual feliz”.

Matilde e Arnaldo Rascovsky (34), ao estudarem o incesto, mostram como a frustração oral por parte da mãe provoca uma precoce busca do pai, resultando daí a ansiosa supervalorização do pênis que recebe todo o ódio despertado pela privação primária do seio e que o amor ao pai como objeto total provoca culpa e depressão já que ante o objeto parcial (seio-pênis) sente amor e ódio e como o componente agressivo para o objeto parcial determina a necessidade de castrar o homem.

O incesto estaria, assim, geneticamente, muito próximo da homossexualidade e esta proximidade, penso eu, poderia ser ilustrada pelo episódio bíblico da destruição de  Sodoma e Gomorra, cidades mães dos protagonistas, por uma explosão de agressividade (chuva de enxofre e fogo ) que também atinge a própria mãe dos fugitivos, tudo como castigo pela homoxesualidade. A esta repressão violenta se segue o surgimento do incesto praticado por Lot embriagado, com suas duas filhas.

Gillespie, em sucessivos trabalhos onde aborda as perversões em geral (19 e 20), e a homossexualidade (21) em particular, afirma haver uma técnica especial de dissociação do ego na perversão, o que permite que este funcione em dois níveis ao mesmo tempo, um ligado à realidade e outro utilizando a negação se adere ao que é virtualmente, um delírio psicótico. Relaciona a angustia de castração dos perversos ao sadismo pré-genital. Infere que a relação entre a perversão e neurose diz respeito ao complexo de castração e entre aquela e a psicose está vinculada a regressão parcial aos níveis oral e anal. Cita Sachs (36): “Um elemento da perversão representa uma fantasia originária do instinto parcial que foi conservada sem modificação na nova estrutura” e explica: “quando o ego é incapaz de reprimir um instinto particularmente forte, recorre a uma repressão parcial. Reprime a maior parte e adota a menor (a expressão consciente da fantasia inconsciente). Assim o mecanismo da perversão parece ser esta solução da divisão”. O autor aconselha prudência em aceitar que a homossexualidade seja simplesmente uma perversão como qualquer outra. Considera a existência de dois tipos de homossexualidade, o primeiro baseado na fixação pré-edípica e o segundo proveniente de uma defesa regressiva frente aos problemas edípicos. Acha que o segundo tipo se adapta claramente à teoria geral da perversão, mas talves não o primeiro. Aponta ainda um terceiro tipo, baseado na rivalidade com o irmão e que este pode ser mais importante do que implicitamente se pode supor. Adverte que a homossexualidade é, provavelmente, de natureza e etiologia heterogêneas, sugerindo maiores investigações clínicas neste campo.

Whitting (42) relata as conclusões sobre o tratamento de 44 homossexuais, oito seus pacientes individuais e trinta e seis em tratamento individual ou em grupo, por outros colegas.  Divide-os , quanto a forma clínica, em

  1. Homossexualidade latente (reprimida) : sem impulsos conscientes.
  2. Homossexualidade suprimida (inibida) : com impulsos e fantasias conscientes, mas sem atividade.
  3. Homossexualidade manifesta : com impulsos, fantasias e atividade.

Caracteriza a homossexualidade  verdadeira ( perversão homossexual ) pelo conjunto de uma neurose de caráter de predomínio narcisístico-oral com fortes traços paranóides, psicopáticos e histéricos com tendência marcada para reações depressivas neuróticas. Como fatores de fixação indica: (a) pai com neurose grave, competindo com o paciente pela posse da mãe; (b) aparecimento precose pelo falacimento da mãe; (c) forte atividade sedutora erótica da mãe; predomínio de lactância prolongada. Vê na homossexualidade masculina a regressão oral, a situaçào traumática infantil e o predomínio das fantasias sobre a realidade. Acha o prognóstico reservado, principalmente nos casos em que o paciente pertence a clubes de homossexuais, dependa economicamente do perceiro e tenha neurose grava de caráter. Faz recomendações quanto ao tratamento, em especial quanto à análise do caráter, chamando a atenção para a transferência, de caráter pre-genital. Coincide com Gergler quanto ao critério de cura e grifa a importância da contra-transferência.

Sperling, (40) em trabalho datado de 1958, sobre os mecanismos de perversão em grupo, vê a perversão como uma imposição de um super-ego parasita, que deve ser, durante o trabalho analítico, admitido pelo paciente como um corpo estranho e eliminado.

Irving Bieber e mais oito colaboradores, (7) em trabalho publicado em 1962 – “Homossexuality,  A Psichoanalytic Study” – após estudarem 106 pacientes homossexuais submetidos a tratamento por 40 terapeutas homens e 9 mulheres, chegam a várias conclusões que sintetizamos a seguir: consideram a coexistência de um pai hostil e uma mãe sedutora que permite intimidades excessivas como muito importantes no surgimento da homossexualidade masculina. A mãe do homossexual teme que o filho a abandone por outras mulheres como ela foi abandonada por sua mãe ao preferir o filho homem, o que os leva a ver a mãe do homossexual carregada de problemas homossexuais severos.  O pai rechaçante, frio ou hostil ou que prefira uma filha, pode levar o filho a se identificar com a irmã em prejuízo de uma identificação heterossexual . Todos os pais de homossexuais tinham problemas emocionais severos e péssimas relações maritais e elegiam o filho como vítima de sua psicopatologia. Quase nunca o homossexual foi o preferido do pai que teve com ele uma atitude negativa, rechaçante ou abertamente hostil que contrastava com a que tinha com os outros filhos. Assim como uma boa relação com uma mãe afetuosa proporciona uma imagem positiva do pai, uma boa relação com um irmão mais velho também pode, até certo ponto, compensar uma má relação com os pais, reforçandoa heterossexualidade.

Para os autores a homossexualidade  seria uma adaptação ao medo da heterossexualidade não aceitam a postulação de Freud segundo a qual  a angustia de castração seria o fator mais importante na gênese da homossexualidade. Notaram que os pênis grandes procurados pelos homossexuais tinham um valor especial com poderes mágicos simbólicos. Com relação à pouca estabilidade no relacionamento entre homossexuais, atribuiram-na ao componente competitivo e agressivo existente entre eles. Concluem que os homossexuais “penetrados” – os autores classificam os homossexuais em “penetrados” e “penetradores”—que preferiam a felação  ao relacionamento anal, se tornavam heterossexuais com mais freqüência, através do tratamento psicanalitico. Que entre os homossexuais que se tornavam heterossexuais, através do tratamento psicanalítico, havia igual proporção havia igual proporção de “penetrados” e “penetradores”. A escolha de amantes “muito masculinos”, com pênis muito grandes, é vista como uma tentativa de reparaç     ão inconsciente, pois esta manobra teria como objetivo a identificação com um homem muito poderoso, através de uma incorporação simbólica, habitualmente expressa em práticas orais. Por outro lado, também seria uma tentativa de castrar o concorrente ficando com sua masculinidade e assim alcançando a heterossexualidade. Concluem os autores que a mudança para a heterossexualidade é uma possibilidade para todos os homossexuais que estiverem motivados a mudar, já que todos eles são potencialmente heterossexuais. Inclusive acham que a orientação terapêutica deve ser para a heterossexualidade e não para o ajustamento dentro da homossexualidade, desde que haja uma disposição firme do paciente, que este possua certa identificação masculina e já tenha tentado alguma vez uma aproximação heterossexual.

Pache (33) dá mais valor, na homossexualidade, com relação ao pai homossexual, às relações precoces deste com o filho, que teriam sido muito erotizadas, do que a ausência, debilidade, autoritarismo ou mesmo violência do mesmo. Para ele, a mãe do homossexual tem uma inveja narcisística do pênis, queria ser homem, bastar-se a si própria e espera este pênis do filho e não do marido. O filho sentindo isto, vê-se ameaçado de castração e daí as tentativas de falização da mãe. A procura do pênis seria uma tentativa de identificação e necessidade de comprovar a existência do seu. Os diversos tipos de homossexualidade poderiam considerar-se como espressão ou reações desse modo feminino de investir.

Laura Achard (5) resalta como fatores principais de fixação homossexual “o predomínio dos impulsos destrutivos, ansiedades primitivas orais e anais”. Um de seus pacientes elegia pessoas desvalorizadas, anônimas que, segundo ela representavam aspectos rechaçados e destruídos de seu próprio “self”, incluindo “imagos” maternos com as quais se identificava projetivamente, assumindo ele o papel de pai agressor. A atuação transferencial no tratamento significava, na maioria dos casos, incapacidade de vivenciar a transferência negativa na terapia. O homossexual teme que sua agressão, depositada no terapêuta o aniquile o que equivaleria a sua própria destruição. Chamando a atenção para os componentes considerados específicos do “acting” homossexual, ressalta: “a compulsão à repetição, as ansiedades primárias orais, a eleição de objeto e o ritual”. “O ritual é o exorcismo da cena primária onde as dramatizam, de diversas formas, tons e matizes vários, o que o paciente vivenciou nela”. “O objeto é indefinido e variavel, as vezes definido, por exemplo: desvalorizado.” Frisa a ausência completa de excitação e gozo, a presença constante da frustração e o amor sempre ausente”.

Hor n stra  (26) crê que a homossexualidade se origina nos inícios da situação primária, ou seja, na situação mãe-filho e nada tem a ver com as complicações edípicas. Sua origem repousa na ruptura dos laços com o pai, proporcionada pela raiva da mãe. O autor não valoriza o conceito de disposição bi- sexual e julga que na homossexualidade não há nem eleição nem relação de objeto, pois o homossexual ainda não se desprendeu da mãe. Acha que o homossexual não procura uma satisfação sexual, mas uma defesa contra a ansiedade. Para o homossexual o pênis figura como fetiche – “algo tomado em lugar de outro objeto valorizado e desejado”—não do pênis materno, mas do próprio pênis onde o indivíduo concentra sua própria identidade. Para Hornstra o medo da criança não se deve à figura desprovida de pênis, mas às ameaças de retaliação provocadas por seus próprios desejos agressivos. Encarece ainda, a dificuldade da análise do homossexual devido às perturbações muito precoces do relacionamento com os pais. O homossexual teme que o analista, como o pai, o ridicularize, e como a mãe lhe dê conselhos, ordens ou lhe faça elogios ou perguntas. Chama a atenção para o otimismo para com os resultados alcançados no tratamento e para os perigos do exame na transferência  -- que é a melhor maneira de tratar – devido à possibilidade de surgirem ansiedades intensas que podem levar o paciente ao suicídio, à auto-mutilação, a incêndios premeditados ou provocações para serem encarcerados. O homossexual nunca deixa de temer que o analísta venha a se tornar a figura da mãe. Como Melanie Klein (27) , Hornstra (Hor n stra) considera que uma relação homossexual sem maiores problemas, na primeira infância – “pedicatio”—dá ao menino uma boa oportunidade de moderar o ódio e o medo ao pênis do pai e de reforçar a crença num “pênis-bom”. Classifica o autor os homossexuais em: 1) Pederastas: adultos que procuram meninos. Eles desempenham o papel de mãe para atender assim sua parte infantil colocada no menino. 2) Iguais: são os homossexuais, mais ou menos da mesma idade, amigos, sendo que um desempenha o papel de irmão mais velho, substituindo a mãe. 3) “Boys” : é o rapaz que almeja ser desejado por um homem mais velho, pederasta ou não, que representa sua mãe, a quem se submete.

Socarides (39) pensa que a homossexualidade é o caminho resultante da incapacidade de o menino ultrapassar com sucesso a fase primitiva de simbiose com a mãe, para atingir a fase de individuação. Como resultado desta falta de maturação psicológica, sobrevêm severos defeitos do ego. A homossexualidade serve para a repressão de um importantíssimo complexo nuclear conduzindo à regressão e à fixação pré-edípica na qual há um desejo e um medo de se fundir com a mãe com o objetivo de reinstalar a primitiva unidade mãe-filho. Considera na unidade mãe-filho: 1) um desejo e um medo de incorporação; 2) uma ameaça de fracasso da identidade pessoal e da dissolução pessoal; 3) um sentimento de culpa devido ao desejo de invadir o corpo da mãe; 4) o desejo e o medo de uma relação incestuosa com a mãe, originada no intenso desejo primitivo de união com ela; 5) uma intensa agressão, de natureza primitiva dirigida à mãe.

Com o fim de evitar este conflito o paciente toma uma série de medidas, como por exemplo: 1) Não se aproxima de outra mulher, em especial sexualmente, pois isto ativaria o medo da unidade mãe-filho; 2) Não tenta se afastar da mãe, porque isto provoca, de parte dela, tendências incorporativas. Tenta, sim, proteger a  “contiguidade livre de perigo” com ela, tornando-se assexual em relação às outras mulheres; 3) Todas as satisfações sexuais são desviadas através  da substituição, deslocamento e outros mecanismos de defesa; 4) Tendo já feito uma identificação feminina ele restaura com firmeza uma transitória identificação masculina com seu companheiro homem; 5) Enquanto substitui um homem na relação sexual, ele está, inconscientemente, desfrutando a aproximação sexual de ambos, pai e mãe, simultâneamente.

A mãe do homossexual por um lado tratou-o com falta de amor e cuidados, forçando a separação e sendo ameaçadora e, por outro, procurando prende-lo. A imagem desta mãe, introjetada, causa uma ruptura (“split”) no ego da criança, criando também o modelo para introjeções posteriores. Em sua escolha de objeto narcisísta, o homossexual não ama somente seu “partner” como gostaria de ser amado pela mãe, mas reage a ele com sádica agressão como uma vez experiementou frente à mãe, ódio pela separação forçada.

EXEMPLO NA LITERATURA: “ A FILOSOFIA NA ALCOVA“

Um exemplo que julgo bastante ilustrativo da homossexualidade como ataque ao objeto primário e também da utilização do pênis como fetiche do seio, encontro no livro de Donatie-Alphonse Françoise De Sade (1740-1814), intitulado “A Filosofia Na Alcova”, escrito em 1793 (37). O livro é dedicado aos “libertinos e devassos de qualquer idade e sexo” e tem como objetivo “ajudar os jovens na obtenção dos prazeres, espezinhando todos os ridículos códigos ensinados por pais imbecis, como protesto por terem sido atirados, contra suas vontades, neste triste universo”. Já na introdução, portanto, deixa claro o autor que a “obtenção  dos prazeres, a depravação” e o que denomina “as trilhas floridas da lubricidade” , são os caminhos através dos quais os jovens poderão atacar os pais.

Inicialmente nos apresenta Madame de Saint-Ange e seu irmão, e também amante, Cavaleiro de Mirvel, que conversam a respeito do Senhor Dolmancé, famoso por sua conduta sexual perversa: só se relaciona com homens, tanto ativa como passivamente ( penetrador ou penetrado ) , consentindo, as vezes, em experimentar mulheres com a condição de com ela ter relações anais, exclusivamente. É o mais famoso dos ateus, o mais imoral dos homens, a mais completa e íntegra corrupção, o pior e mais criminoso indivíduo que pode existir no mundo”. Madame Saint-Ange e seu irmão também têm conduta sexual perversa.

A seguir é descrita a iniciação sexual de Eugenie, uma jovem de 18 anos, pelos três. Eugenie é filha de um casal em que o pai é um agressivo e amoral e a mãe é uma beata submissa. Já no início, ante a pergunta da jovem se não existiam ações por demais criminosas, responde-lhe Madame de Saint-Ange: “nenhuma, meu amor, nenhuma, nem mesmo o roubo ou o incesto ou o assassínio e o parricídio”. E mais adiante: “as atrocidades, os horrores, os crimes mais terríveis, nunca mais te espantem, Eugenie; o que há de mais sujo, de mais infame, de mais proibido é melhor me excita , é sempre o que nos faz gozar com mais delícia”.

Todos os atos perversos praticados são entremeados de frases de ataques à sexualidade madura, à reprodução, aos pais e mais especialmente às mães. Confições são feitas, a cada passo, neste sentido. Diz Eugenie: “...pois amo loucamente meu pai e sinto que odeio minha mãe”. Ao que responde Dolmancé : “não me consolei da morte de meu pai, e quando perdi minha mãe, dei pulos de alegria... não devemos absolutamente nada às nossas mães”.  E Madame de Saint-Ange: “Tenho raiva das mulheres virtuosas. Criança formada com o sangue do pai só a este devia ternura”. “Detestei minha mãe tanto quanto detestas a tua”. E ante a pergunta: “jamais desejaste a morte de alguém ?”Responde Eugenie: “Sim, sim e tenho todos os dias debaixo de meus olhos uma criatura abominavel que gostaria de ver há muito tempo no túmulo”.  “Eu detesto, mil razões tornam legítimo meu ódio, preciso ter a sua vida a qualquer preço ! “.

Ao lado do ataque às mães há o elogio e a aparente valorização do pênis que é sempre descrito como enorme, quer em comprimento quer em diâmetro. O esperma é chamado, alternadamente, “licor mágico, licor da vida e licor precioso”, isto é, sempre como uma bebida trazendo implícito seu significado oral – Abraham (1). Pode-se notar que esta hipervalorização é mais uma pseudo valorização, já que seu poder fecundante e criador é anulado pelo desperdício do esperma que é sistematicamente posto fora. Fica claro nesta idealização do pênis a implícita negação do valor do seio e de seu conteúdo (25).

A respeito das virtudes diz Dolmancé: “Existe algum sacrifício a estas falsas divindades que valha um minuto dos prazeres que fruímos ultrajando-as ?“  

Com respeito á gravidez, assim se manifesta Madame de Saint-Ange: “...tenho tal horror pela propagação que deixaria de ser tua amiga a partir do instante em que estivesses grávida”. E mais adiante: “não receies o filicídio, tal crime é imaginário; somos sempre senhoras do que trazemos no ventre. Ainda que já tivesse nascido, seriamos senhoras de destrui-los. Não existe na terra nenhum direito mais aceito do que o das mães sobre os filhos. Não há nenhum povo que não tenha reconhecido tal verdade: está fundada na razão, nos princípios “. Só aparentemente é defendido o direito da mãe que é atacada o tempo todo. Nesta pseudo-defesa atacam o concorrente, o rival, que a mãe leva dentro e que lhes causa inveja e ciúmes pelo que implica em perda de controle sobre a mãe.

Em sua iniciação Eugenie solicita mais esclarecimentos: “... peço que me digas como costumas ver os objetos que servem aos teus prazeres ? “ E Dolmancé: “Para mim não valem nada... desde que eu seja feliz, o resto não importa”. Eugenie: “gostas mais que experimentem dor, não é verdade ? “ “Claro, é muito melhor. Que se deseja quando se goza? Que tudo aquilo que nos rodeia se ocupe apenas de nós. Quando tais objetos também gozam, a partir desse momento estarão muito mais preocupados consigo próprios do que com nossas pessoas e dessa forma nosso gozo será atenuado.” Neste esclarecimento de Dolmancé pode-se ter uma idéia do relacionamento egoista-agressivo de um bebê frente ao seio.

No último dialogo, agora com a presença de Madame de Mistival, mãe de Eugenie, que procura tira-la das mãos de seus iniciadores, cindo em poder do grupo que tanto ódio tem de suas mães, é ela insultada, surrada e submetida a um autêntica “curra”pelos componentes do grupo. Sua filha a submete ao coito vaginal e anal utilizando para isto, um bastão à guiza de pênis, dizendo-lhe: “ai mamãe, que gostozo, vou servir-te de marido... e aqui estou de uma só vez adúltera, incestuosa, sodomita... que progresso !” Ao gozar, Eugenie dá dez ou doze murros no peito e nas costas de sua mãe.” A agressão culmina quando a mãe de Eugenie é submetida a relações anais e vaginais por um criado com o objetivo de contamina-la com a sífilis e a filha, após, costura-lhe os orifícios para que a inoculação não deixe de se efetuar. Enquanto costura vai lhe dizendo: “Mamãe, deixe-me costurar, assim não poderás dar-me irmãos e irmãs”. No ato de costurar, fere-a “nas coxas e tetas”, exclamando: “Que prazer ! “ O relato finda quando a mãe é obrigada a ajoelhar-se diante da filha e pedir-lhe perdão “por sua horrorosa conduta em relação a ela”’.

Neste relacionamento direto do grupo com a mãe de Eugenie, sobressai , mais uma vez, a aproximação voraz destrutiva de cada um com sua própria mãe. O pênis-bastão é utilizado como instrumento de ataque, de tortura, daí a necessidade de dimensões exageradas. O coito sádico é, agora, a repetição num outro plano das primitivas relações boca-seio, impregnadas de agressão. As fantasias de esvaziamento dos conteúdos bons da mãe – impossibilidade da mãe vir a Ter mais filhos já que o coito com bastão resulta estéril – e o rechea-la de maus objetos – inoculação da sífilis com o fim de esterilização – e a preocupação de que estes objetos lá permaneçam através da sutura dos orifícios, os ferimentos nas coxas e seios, marcam bem o componente invejoso-paranóide desta relação de objeto que é selada com a projeção da culpa sobre a mãe quando esta é obrigada, “de joelhos”, a pedir perdão “por sua horrorosa conduta em relação à filha”.

Na atuação do grupo, descrita por Sade, os mecanismos de defesa utilizados frente às             ansiedades paranóides são preponderantemente maníacos. Onipotentemente negam a dor proporcionada pela perda do seio passando a procura-lo agressivamente na figura de um pênis idealizado. Assim sentem-se com o controle do objeto perdido. Sobressai ainda o interjogo de identificações introjetivas com o objeto idealizado e identificações projetivas de seus aspectos agressivos e despreziveis.

Nosso paciente realiza estes ataques à mãe odiada em sua própria pessoa. Identifica-se com ela e leva-a à pessoas por ele vistas como desvalorizadas para que a tornem (tor nem) puta. Também é infectado pela sífilis e opõe dificuldades a seu tratamento. Estes seus “acasalamentos” também resultam estéreis já que são um arremedo das relações hetero-sexuais dos pais com o objetivo de separa-los e ataca-los, em especial à mãe a quem acusa sistematicamente, negando-se a ver em si, sua própria hostilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A observação do caso de Renato, ao longo de mais de dez anos de análise, me leva a tentar uma reconstrução do que teria sido sua primitiva infância, onde, sem dúvida, tiveram origem os problemas que resultaram no estabelecimento do quadro neurótico apresentado. Neste, sobressaem a sintomatologia ansiosa e o comportamento compulsivo. Através deste comportamento que funciona como válvula de escape, o paciente consegue alívio temporário à ansiedade cada vez que ela atinge um nível insuportável ameaçando a integridade de seu ego. Julgo, pois, que o paciente deve ser visto, sob o ponto de vista diagnóstico, como portador de uma neurose em que predomina a sintomatologia ansiosa e compulsiva e não como um psicopata. Baseio-me, para isto, na diferenciação feita por Fenichel (10) : a impulsividade na neurose, não é sintônica com o ego, é penosa e o que ocorre nas psicopatias é o contrário, acarretando mesmo o orgasmo genital. Em segundo lugar, na neurose o sintoma está “dessexualizado” enquanto que na psicopatia é um componente da sexualidade infantil.

Renato é portador de impulsos em que a voracidade e a agressão ocupam lugares destacados no seu relacionamento com os objetos. Note-se que sua mãe muito contribuiu para incrementar esses impulsos já que se portava de maneira muito dissociada: sedutoramente procurava prende-lo através da amamentação prolongada e do co-leito, por exemplo, também era muito rechaçante como se viu pela maneira violenta com que o desmamou e mesmo como o agredia fisicamente, através do marido. “Este tipo de mãe, introjetada, causa uma ruptura (“split”) no ego da criança, criando também um modelo para posteriores introjeções” -- Socarides (39). Em sua atuação junto à mãe reivindicava um perído de amamentação, por assim dizer, interminavel ao mesmo tempo que a atacava violentamente, tanto na fantasia como na realidade, quer com palavras quer com atos, “como o bebê ataca o seio amado, na sua ânsia de incorporar, devorar e destruir”—Abraham (1). A realidade de seu ataque era, para ele, pela morte da tia com ele nos braços e das sucessivas “mortes” da mãe a cada crise epiléptica.

Na aproximação com os homens era essencial o tamanho do pênis, somente isto importava.  O homem como objeto total era desprezado e destruído. Isto nos dá a idéia de que assim o paciente se relacionava primitivamente com a mãe, em função do seio: ela nada valia, e até era sua concorrente já que de posse do seio disputava-o com o paciente terminando por desmama-lo. O seio grande e farto era o que valia. Melanie Klein (28), descrevendo o relacionamento de seu pequeno paciente Ricardo com sua mãe, dizia que ele temia e odiava a “mãe genital” enquanto que dava seu amor e carinho à “” mãe seio”. Acho que alem do que a autora quis nos mostrar no caso em questão, nos fala também da atitude do bebê frente à mãe objeto-total e a mãe objeto parcial. É a disputa com a mãe pelo seio que modelará, ulteriormente a disputa com o pai pela posse da mãe. A enorme agressão oral do paciente, projetivamente colocada nas mulheres, inicialmente a mãe, fizeram-no temeroso de suas “bocas vaginas que sugam”, mordem e esvasiam. Era mais um motivo para fugir das mulheres e negar que ele possuía um pênis-seio que elas desejariam obter com igual voracidade. O tamanho do seio, terminava por ser, também, instrumento de agressão com que contava o paciente para se castigar.

No caso de uma carga agressiva muito intensa contra a mãe, acompanhada de grande ressentimento ao trauma do desmame, há uma fuga para o pai (pênis) que está tão somente encobrindo o ainda não resolvido problema com o seio, tanto assim que o pênis é procurado como se fosse um seio. Grinberg (24) atribui o despeito, uma das formas de ressentimento, ao trauma do desmame. A própria palavra – despeito—tem esta origem.

O afastamento do seio (mãe) e a procura do pênis (pai) pelo menino é o caminho para a identificação com o pai, mas como esta procura, no homossexual, é feita, não ao pênis como pênis, mas a ele visto como se fosse um “seio-mau” –fetiche do seio e não pênis – a identificação não é alcançada. O homossexual ainda não renunciou ao seio, na realidade perdido, continuando aferrado à fantasia de conserva-lo, mas como o seio é frustrador e está ainda projetivamente carregado de agressão, não pode ser procurado diretamente, mas através de um substituto que inconscientemente tenha o mesmo significado sem, no entretanto, ser tão perigoso.

A identificação com a mãe foi uma tentativa de recupera-la, negando sua perda, voltando a tê-la sob seu controle, onipotente, evitando assim a ferida narcisística proporcionada pelo reconhecimento da perda, e também para se vingar dela em si próprio. Como no episódio da iniciação de Eugenie, descrito por Sade, há, a intenção de, no plano edípico, separar os pais, interpondo-se entre eles agressivamente e assim tornar, não só estéril como mortal o acasalamento.. Renato, ao procurar os homens com pênis grandes, não só era o bebê que procurava o seio farto e destruía a mãe, como era, identificado com ela, a mãe, levada por ele para ser atacada, ferida, denegrida e até morta pelo pai que a seguir morreria ( de infarto) também.

Na medida em  que  o paciente diminuia  a disposição, através do trabalho analítico, passando a ver em si próprio a voracidade, a inveja e a agressividade competitiva com a mãe analista, foi possível sentir as mulheres menos perigosas e agressivas em relação ao seu pênis-seio  sendo possível, inclusive, oferecê-lo a uma mulher sem medo da retaliação. É interessante que se note que a medida que o paciente progredia, mesmo na conduta homossexual as relações de objeto se modificavam gradativamente e passavam a se fazer com objetos mais integrados. Seu interesse não ficava unicamente no pênis-seio, mas o parceiro passou a ser visto como um todo por quem se interessava como pessoa.

Paulatinamente, ao longo da análise, hoje com mais de dez anos de duração, e há três anos com quatro horas semanais, o paciente foi, com avanços e recuos, se apossando de si próprio, ampliando seu ergo e mudando no seu relacionamento com os objetos externos, já que o auto-conhecimento lhe permitiu reavaliar seu mundo interno.

Durante o quarto ano de tratamento houve o abandono do uso sistemático de tranqüilizantes. Hoje só se utiliza deles em períodos de ansiedade aguda. Conseguiu terminar o seu curso tendo hoje uma atividade profissional à qual se dedica com grande interesse e eficiência, conseguindo, através dela, sublimar muito de sua agressividade oral. 

A vida hetero-sexual alcançada durante o tratamento, vem se mantendo satisfatoriamente. Após um período de uns quatro anos sem atuações, quando discutia sua alta e coincidentemente sua esposa teve que viajar, deixando-o só, voltou a atuar por uma vez. Os impulsos à atuação, anteriormente de caráter compulsivo, incontroláveis, atualmente perderam aquele caráter. A agressividade é bem menor, notando-se isto, não só através de seu comportamento como de suas fantasias. No terreno transferencial já são aceitos e tratados os impulsos agressivos e amorosos, o que lhe era impossível, anteriormente. Devido ao interesse em proteger-me de sua enorme destrutividade oral e proteger-se de meu revide.

Atualmente o temor do paciente é sua alta, vivida como um desmame e para evitá-la, muitas vezes nega seus progressos, levando-o a atuar como fui dito.

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